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O mundo particular do aborto, como o das drogas e outros movimentos
marginais, tem a sua própria subcultura. As pessoas que trabalham
neste mundo usam um uniforme comum - se expressam com os mesmos
clichês, expõem filosofias idênticas, dizem as mesmas mentiras,
usam dos mesmos expedientes, praticam a mesma corrupção, tratam as
jovens grávidas como peões numa espécie de jogo de xadrez humano,
grotesco, geralmente não gostam de crianças e na maior parte das
vezes têm tendências genocidas. Entrando-se neste mundo, sente-se
na hora o perigo da contaminação pelo cheiro infecto e pela imundície
mental e intelectual. Todo o comércio cheira a matadouro. Todos
parecem que estão sujos de sangue.
As agências de aborto estão colocadas no começo da fila da morte.
É por elas que a correia de transmissão começa a se movimentar e
inicia a sua jornada irrevogável para a fornalha. Todos estão bem
conscientes do seu papel. Se deixam escapar uma jovem grávida,
haverá menos dinheiro no banco para eles e menos dinheiro no banco para
os "açougueiros" das clínicas. Basta dizer que poucas são as
mulheres que conseguem escapar. A sua habilidade de vendedores, que
programam vendas e descobrem fregueses, vendedores para não dizer
rufiões, é demasiado sofisticada e perfeita para que muitas
"moscas" escapem da sua rede. E as moças são tratadas mesmo como
"moscas": pequeninas, insignificantes, inúteis.
Nenhum outro setor da medicina atraiu uma súcia igual de piratas. De
fato, nenhuma outra profissão, ramo comercial ou industrial, nem
mesmo a especulação imobiliária, tem um número tão grande de
"tubarões". Não se encontrarão delinqüentes do estetoscópio que
pressionem os pacientes a fazerem operações cardiológicas. Ninguém
ouviu falar de rufiões da amigdalite, procurando convencer as pessoas
que extraiam as amígdalas. O aborto é a "ovelha negra" da
medicina! Muitos dos médicos que trabalham neste mundo tenebroso não
conseguiram emprego noutra parte. Falando com clareza, são as
"notas desafinadas" da profissão. Muitos deles não têm
ambições. Praticam a filosofia do "dinheiro ganho fácil". Há
cirurgiões, que trabalham no comércio do aborto, que foram suspensos
de exercer a profissão e tiveram a sua licença cassada pelo menos por
algum tempo e são classificados de "indesejáveis" nos meios médicos
legítimos. Muitos adeptos do aborto têm crenças políticas
fanáticas, que vão desde a filosofia de Hitler até a filosofia
daqueles que gostariam de reduzir o mundo a um punhado de escolhidos que
tivessem fé viva na eutanásia e no aborto.
O comércio do aborto chegou até a produzir seus próprios
especialistas. O "World Wide Medical Advice Service",
(Serviço Mundial de Consultoria Médica), situado na Manchester
Street, Londres, se ocupa sobretudo de abortos para jovens
estrangeiras, especialmente alemãs. O aborto é ilegal na Alemanha
e a mulher pode ser perseguida quando voltar para o seu país, mesmo
que o aborto tenha sido feito em outro país. Nosso contato inicial
com esta agência foi feito por telefone. Um homem respondeu ao
chamado e a conversa foi bastante sórdida. Ei-la:
Litchfield: "Gostaria de saber se vocês podem me ajudar. Minha
namorada está certíssima de que está grávida e nos achamos num beco
sem saída. Queremos livrar-nos desta enrascada. Disse-lhe que
telefonaria para ver o que é que se poderia fazer". Sue estava
gravando a conversa numa extensão.
O homem: "Seria melhor que o Sr. a trouxesse aqui".
Litchfield: "Acha que devemos ir os dois?"
O homem: "Com certeza. Seria melhor que o Sr. viesse também.
De onde o Sr. está telefonando?"
Litchfield: "Estou em Dagenham. Vou à cidade quase diariamente e
não haverá nenhum problema em ir com ela, se o Sr. acha uma boa
idéia".
O homem: "Sim, é melhor que o Sr. venha com ela. Não haverá
dificuldade. E então... hum... podemos arranjar tudo, o senhor
sabe, conversaremos. . . Realmente a pessoa com quem o Sr. vai
falar não está aqui no momento".
Litchfield: "Não sei se haverá problema com a fase da gravidez em
que ela se encontra... "
O homem: "Se estiver ainda no terceiro mês não haverá
problema".
Litchfield: "E se estiver em fase mais avançada?"
O homem: "Também não haverá problema. O que acontece é que
depois de três meses fica um pouco mais caro. Só isso".
Litchfield: "Bem, não haverá problema do ponto de vista
financeiro. Quero apenas saber se a coisa pode ser feita".
O homem: "Mas o Sr. não deve demorar muito para vir.
importante! "
Litchfield: "Há um limite de tempo?"
O homem: "Bem, quatro, quatro meses e meio. Mas, o Sr. sabe,
o importante é trazê-la aqui. Ela já fez o teste de gravidez?"
Litchfield: "Não, não creio. Ela guardou segredo para mim por
algum tempo, mas finalmente soltou a bomba".
O homem, sorrindo: "Sim, isso é normal. O Sr. pode vir com
ela ou ela pode vir sozinha. Dá no mesmo".
Litchfield: "Bem, mas se tivermos de falar de dinheiro..."
O homem: "Realmente, é melhor que o Sr. venha com ela, julgo
eu. Se ela não está inteiramente certa em que mês está, quanto
mais depressa melhor. É do interesse de vocês, o Sr. me
entende". Em seguida, depois de pensar um pouco, acrescentou:
"Será melhor para ela, e ficará mais barato para o Sr. Não que
seja perigoso, se ela estiver nos últimos meses, mas... depende de
como está sua gravidez... Vamos fazer amanhã".
Sue foi sozinha para a "World Wide". Usou o seu nome real e o seu
endereço verdadeiro nesta ocasião. Uma senhora chamada Troy
abriu-lhe a porta. Esta mulher era estrangeira, tinha um aspecto que
inspirava medo, usava óculos de armação grossa, que davam ao seu
rosto um aspecto diabólico, e falava com carregado acento gutural.
Era uma mulher alta e gorda, e não hesitou em lançar-se com todo o
seu peso sobre a sua presa, Sue.
Introduziu Sue numa sala de espera, onde estava uma loura queimada de
sol, com uma mala ao lado. Então a Sra. Troy disse: "Podemos
conversar tranqüilamente. Esta senhora não entende inglês. Por
isso não se preocupe. O. K.?"
Sue: "Meu namorado telefonou outro dia e lhe disseram que eu poderia
vir aqui".
Sra. Troy: "Você é a senhorita Kelly?"
Sue: "Não".
Sra. Troy: "Ah, não é. Você veio fazer o teste de
gravidez?"
Sue: "Exatamente".
Sra. Troy: "Trouxe a amostra? Está bem, queira sentar-se por
favor". Levou a amostra para outra sala e voltou com um formulário.
Então a Sra. Troy começou a fazer umas anotações: nome,
endereço, profissão, local de trabalho etc.
Em seguida, sem mais nenhum preâmbulo, sem conhecer as
circunstâncias, nem se o teste iria ser positivo, a Sra. Troy
perguntou bruscamente: "Você quer esta criança?"
Sue respondeu: "Não".
Sra. Troy: "Então você não quer. Vou mandar esta amostra para
o laboratório, e se a Sra. estiver grávida, e se quiser dar um
jeito, nós a podemos ajudar. Mas temos de fazer tudo isto muito
rápido. Antes de tudo, o preço vai ser muito mais alto depois do
terceiro mês. Além disso, eles não gostam de fazer depois do
terceiro mês. A Sra. não tem muito tempo pela frente. Tem
filhos? Certamente não, não é verdade?"
Sue: "Falando de preço, em quanto vai ficar mais ou menos?"
Sra, Troy: "Bem, cerca de 140 libras. Mas faz-se tudo
privadamente, como a Sra. está vendo. Não é hospital. É uma
clínica particular. E a Sra. tem que passar a noite lá. Quero
dizer, supondo que a Sra. venha na segunda-feira, será examinada
no mesmo dia, tiraremos sangue para exame, - para determinar seu
grupo sanguíneo - depois será examinada e na terça-feira de manhã
poderá entrar na clínica. Passará lá todo o dia, toda a noite e
na quarta-feira de manhã terá alta".
Sue: "E a operação será feita na terça-feira de manhã?"
Sra. Troy: "Sim, na terça-feira de manhã. A não ser que a
Sra. não queira neste dia em razão do trabalho, ou coisa
semelhante. Se prefere fazer no fim de semana, podemos providenciar
como deseja".
Sue: "Certamente o pagamento será feito adiantado, não?"
A Sra. Troy deu uma estrondosa risada: "Bem, não somos nós que
queremos, querida. Os médicos não operam, sem pagamento
adiantado, como a Sra. sabe. B uma coisa em que não podemos
interferir. Depende tudo dos ginecologistas. São todos
ginecologistas da Harley Street".
Sue: "Então vai ser em Londres?"
Sra. Troy: "Sim, mas são todos médicos excelentes, querida.
E o ginecologista é a coisa mais importante, é a coisa principal.
E quando você quiser ter filhos não haverá problema, entende?
Depois da operação você pode ter filhos. Por isso é que
escolhemos os melhores ginecologistas. Você acha que pode pagar?"
Sue: "Oh, sim! Não sou eu quem vai pagar. É o meu namorado".
Sra. Troy: "Hum, então é ele que deverá pagar? Espere o
resultado querida. Posso telefonar-lhe ou você me telefonará?"
Sue: "Eu telefonarei, se for para hoje".
Sra. Troy: "Pode ser que seja para hoje. Você deve ir ao
laboratório. Já mandamos hoje pela manhã uma quantidade imensa.
Estou pensando no tempo. Já é uma hora. Se ele não perder tempo
pode fazê-lo imediatamente. Telefone-me por volta de quatro horas.
Tem o número? Vou dar-lhe um cartão. Depois do terceiro mês,
custará muito mais".
Sue: "Então não haverá nenhum problema em fazer isto?"
Sra. Troy: "Não haverá absolutamente nenhum problema. Mas, se
você fosse fazer na 'Saúde Pública' não o conseguiria".
Sue: "Mesmo? Por que seria?"
Sra. Troy: "Bem, que motivos você tem? Diga-me que boas
razões tem para não querer esta criança?"
Sue: "Realmente não tenho nenhum motivo".
Sra. Troy: "Então esta é a sua resposta, querida. Há pessoas
que esperam meses para fazer isto e quando chega o tempo têm a surpresa
de ouvir: 'A Sra. está em estado muito avançado, e não pode
mais fazer'. Além disso você deve ter razões muito fortes, quase
uma doença incurável, ou já ter oito ou nove filhos. Infelizmente
é assim. Mas vai melhorar com o tempo. Naturalmente, um tratamento
numa clínica particular é completamente diverso. Completamente...
Quero dizer, há somente duas ou três pessoas num quarto, um
telefone à disposição e visita a qualquer hora. E é uma
tranqüilidade. Você precisa de repouso!"
A Sra. Troy sorriu, naturalmente satisfeita com o funcionamento
perfeito da sua máquina de propaganda.
Sue: "Parece um hotel".
Sra. Troy: "Algo parecido. Por isso é que custa este preço,
naturalmente".
Sue: "Tenho de assinar algum papel?"
Sra. Troy: "Absolutamente nada. Quando você vier,
preencheremos todos os papéis. Mas não nos vamos precipitar. Agora
você só tem de pagar duas libras pelo teste".
Sue: "Se eu estiver grávida, posso fazer hoje uma consulta com um
médico?"
Sra. Troy: "Bem... Se você quiser fazer uma consulta com um
médico hoje, então a operação deverá ser feita amanhã. Isto
significa que você tem de pagar hoje".
Sue: "Entendo. Então a gente tem de consultar o médico no dia
anterior, não? E o dinheiro deve ser pago com um dia de
antecedência, certo?"
Sra. Troy: "Sim, com um dia de antecedência".
Então Sue entregou à Sra. Troy uma nota de cinco libras. A
Sra. Troy pediu licença, saiu um pouco e voltou com o troco de
três libras.
Sra. Troy: "Aqui estão as três libras de troco e um cartão com
o número do nosso telefone".
Sue: "Devo ir a Harley Street para...
Sra. Troy: "Não tem de fazer nada. Agora, o importante, o
conveniente, é que faça tudo na terça-feira. Venha para Londres
e eu lhe arranjo acomodações num bom pensionato para você pernoitar,
porque a viagem é bastante longa e cansativa".
Sue: "Vou ser examinada aqui?"
Sra. Troy: "Não. Vai ser examinada... bem, temos muitos
médicos, naturalmente, uns em Harley Street, outros em Welbeck
Street. Mas não precisa ir lá. Meu motorista a levará e
esperará até terminar o exame. Depois, na manhã seguinte, ele a
levará para a clínica. O que pagar já inclui tudo isso a passagem,
e todo o resto. É assim que trabalhamos. Muitas jovens estrangeiras
nos procuram, e sabemos a dificuldade que uma pessoa encontra num país
estranho, sem saber falar a língua. O serviço que fornecemos a
estas jovens é o mesmo que lhe oferecemos ".
Sue: "Com que carro irei à clínica?"
Sra. Troy: "Bem, não será um Rolls Royce, naturalmente.
Mas, posso garantir-lhe que é um carro que funciona. E quando tudo
estiver terminado, o motorista apanhará você na clínica e a levará
para a estação. Tudo correrá às mil maravilhas. Não haverá
nada de anormal".
Sue: "Então a Sra. pode reservar para mim um quarto numa
pensão?"
Sra. Troy: "Sim. Penso que será melhor, porque temos pouco
tempo. Traga tudo para passar a noite, chegue por volta das duas
horas da tarde, e nós arranjaremos imediatamente a pensão.
Consultará logo o médico e ele a examinará. Em seguida voltará
para a pensão. Na manhã seguinte a pegaremos na pensão e a
levaremos para a clínica. No dia seguinte, a apanharemos na clínica
e a deixaremos perto da estação em que terá de tomar o trem de volta
para casa. Naturalmente, querida, no dia da operação, você não
pode comer nada de manhã, porque tudo será feito com anestesia
geral. Não vai sentir nada. Pode apenas tomar uma xícara de chá
ou café, por causa da anestesia que poderá lhe causar ânsia de
vômito. Entendido?"
Sue: "É uma operação demorada?"
Sra. Troy: "Em absoluto. Dizemos operação, mas é
propriamente uma raspagem. Você nunca fez antes? Eles apenas limpam
o seu útero. Aliás, isto é uma coisa boa para toda mulher,
independentemente de estar grávida ou não. Eles limpam tudo e em
pouco tempo. Atualmente essas coisas são feitas com muita
perfeição. Não é como antigamente. Agora tudo é extremamente
perfeito. Não a deixarão ir para casa na mesma noite, mesmo que o
queira. Isto é para o seu bem, não acha?"
Sue: "E o que é uma noite?!"
Sra. Troy: "É o que eu estou dizendo. Você pode pagar menos e
eles lhe darem alta quatro horas depois, mas pode haver
complicações. Então me telefone. Meu nome é Troy".
Sue despediu-se da Sra. Troy e mais tarde, naquele mesmo dia, lhe
telefonou para saber o resultado do teste de gravidez. Deve-se
ressaltar novamente que Sue sabia que não estava grávida, segundo o
diagnóstico de um dos mais eminentes ginecologistas do país. A
conversa pelo telefone, gravada, foi deste teor:
Sue: "Alô, é a Sra. Troy? Aqui é Susan Kentish".
Sra. Troy: "Sim, positivo querida. Não é surpresa para
você, não é verdade?"
Sue: "Não. Falei com meu namorado e ele disse que me daria as
140 libras e podemos continuar com o caso".
Sra. Troy: "Está bem. Quando é que quer fazer?"
Sue: "Que tal, se eu fosse segunda-feira para fazer na terça?"
Sra. Troy: "Excelente. Você vai pernoitar em Londres?"
Sue: "Acho que seria melhor".
Sra. Troy: "Também acho. Evita aborrecimentos e correrias.
Poderia chegar por volta de nove e meia? Posso conseguir que faça no
mesmo dia. Então estaria livre na terça-feira".
Sue: "Posso sim".
Sra. Troy: "Fazendo assim, economizaremos uma noite. Portanto
não chegue depois de nove e meia".
Sue: "Certo. Em que clínica serei operada?"
Sra. Troy: "Bem. O caso é que temos seis clínicas diferentes,
e no momento não lhe posso dizer a clínica em que vai ficar, por
causa do problema dos leitos, entende? Mas, assim que souber, pode
telefonar ao seu namorado e dizer-lhe o nome da clínica. Depois que
chegar aqui será examinada pelo médico e irá em seguida para a
clínica. Antes de entrar na clínica poderá telefonar a seu
namorado, daqui, e dizer-lhe para onde vai".
Sue: "Vou ser examinada apenas uma vez?"
Sra. Troy: "Sim. E basta. Traga apenas uma maleta com suas
coisas e uma camisola. Não tome um café reforçado, apenas um café
simples, e quando muito uma fatia de torrada. Não pode comer ovos,
presunto, nada do gênero. Se não puder vir, por favor me
telefone, porque eu já reservei um leito para você".
O compromisso, naturalmente, não foi mantido. O importante deste
episódio é o fato de tudo ter sido arranjado muito antes de Sue ter
sido examinada por um médico. Não se sabia nada sobre ela,
inclusive antecedentes médicos, sociais e econômicos, e já um leito
lhe estava reservado numa clínica, já tinham sido discutidos os
termos financeiros, já se tinha concordado com tudo e a operação
estava programada para o mesmo dia em que ela seria examinada por um
único médico, quando a lei exige dois, para decidirem "em boa
fé".
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