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Um dos consultórios de teste de gravidez mais antigo e conhecido em
toda a Inglaterra é o "Ladycare", de propriedade do Sr. Thomas
Pond. Ele dirige sua empresa privada atrás de cortinas de renda na
St. Augustine's Avenue, n. 46, Ealing, Londres - a meio
caminho entre West End e Heathrow Airport.
O quartel-general do Sr. Pond é uma modesta casa particular em
área residencial modesta, de um subúrbio ocidental da cidade. A rua
chama-se Avenue, mas nota-se o exagero. Existem árvores, aqui e
ali cheiro de tinta fresca, algumas cercas bem cuidadas, entretanto a
impressão geral que se tem é de sordidez.
Chegamos ao consultório do Sr. Pond numa manhã, sem termos
marcado hora. O Sr. Pond é um homem magro, de rosto lúgubre e
feições bem marcadas, nos seus quarenta anos. Ele mesmo atendeu à
porta, vestido de avental branco, à maneira dos médicos internos.
Parecia um médico, embora não o fosse. Olhou-nos de cima para
baixo, com ares de certo desprezo e compaixão, do alto dos degraus
bem encerados de sua casa.
Dissemos ao Sr. Pond que queríamos fazer um teste de gravidez e ele
nos introduziu numa sala de espera em que tomou alguns apontamentos.
Na ocasião, éramos um casal solteiro. Finalmente o Sr. Pond
disse a Sue: "Quer ter a bondade de entrar nesta outra sala".
Sue perguntou: "Meu namorado pode vir comigo?"
O Sr. Pond respondeu secamente: "Não. Quero falar com a Sra.
a sós". Sue e o Sr. Pond entraram no escritório, situado no
fundo da casa no andar térreo. Este escritório era uma saleta quase
sem móveis. Só havia uma escrivaninha, poucas cadeiras, e um
armário. Cortinas sujas tapavam a vista de um jardinzinho que ficava
no quintal. O Sr. Pond fez algumas perguntas relativas à possível
gravidez...: "A Sra. já esteve grávida antes?... Notou
sintomas de gravidez?... Quer esperar o resultado?... Pode
pagar-me três libras adiantado?...
Sue disse ao Sr. Pond que o seu namorado tinha o dinheiro. Então
voltaram para a sala de espera e Litchfield lhe entregou as três
libras em dinheiro. Enquanto fazia o teste de urina, o Sr. Pond
nos deu alguns folhetos para ler, um dos quais sobre aborto. Tudo
isso antes de termos o resultado do teste, e antes de ele saber nossas
opiniões sobre o assunto.
O Sr. Pond não se demorou muito, e voltando para a sala de espera
declarou solenemente: "É positivo. Aqui está um relatório para a
Sra., e outro para a Sra. dar ao médico que consultar. Ele lhe
dirá que espécie de teste nós fizemos. E aqui estão alguns
exemplares dos folhetos que lhes dei para ler enquanto esperavam". A
grande maioria dos folhetos que ele nos deu se referia a métodos para
se livrar da gravidez, em vez de ajudar as mulheres a levá-la a bom
termo.
O Sr. Pond acrescentou: "Se a Sra. quer interromper a gravidez
deve agir com pressa, porque já está de dezesseis, semanas a partir
das suas últimas regras. Se deixar a coisa para mais tarde a
operação será complicada, e vai-lhe custar um monte de dinheiro".
Sue não estava grávida, como já salientamos várias vezes.
Entretanto o Sr. Pond disse solenemente que ela estava grávida de
4 meses) Dava também a impressão de que ele a estava impelindo para
um aborto fictício com a frase "deve agir com pressa" e com o aviso:
"se deixar a coisa para mais tarde, . . . vai-lhe custar um monte
de dinheiro". Não dava a Sue chance de falar, quase nem de
respirar, nem de pensar. Se tudo aquilo fosse verdade, ela estaria
com certeza nas suas malhas, sobre a correia de transmissão que a
levaria inexoravelmente a uma dás mais infames fábricas de morte. O
controle da máquina estava nas mãos de um profissional que encaminhava
milhares de jovens todos os anos para os abortadores.
Também nenhum de nós tinha falado de aborto. Tudo o que tínhamos
pedido ao Sr. Pond fora um teste de gravidez. Nós podíamos estar
querendo que Sue estivesse grávida, podíamos estar querendo um
filho. Poderíamos ter achado a suposição de Pond ofensiva, isto
é, que nós queríamos matar uma criança, nosso filho, mesmo sendo
o feto totalmente imaginário.
Mas concedendo ao Sr. Pond o seu ponto de vista, Litchfield
perguntou: "Que podemos fazer?"
Pond: "Vocês consultaram o seu médico?"
Sue: "Não".
Pond : "Querem fazer o aborto através da Saúde Pública?"
Sue: "Não quero consultar o meu médico".
Pond: "A única alternativa é ir a um médico particular e pagar
uma taxa. Quando a gravidez está no começo a taxa é de oitenta
libras, como é o seu caso. Mas na semana que vem as coisas mudam".
Litchfield: "Podemos fazê-lo antes?"
Pond: "Se for por intermédio de um médico particular, sim.
Faça a consulta hoje e o aborto amanhã. É só querer".
Sue: "Será que podemos?"
Pond: "Claro, minha Sra. Se for com médico particular, não
haverá dificuldade".
O Sr. Pond não fez nenhuma menção de que nós precisávamos ter
boas razões, e sólidas, em virtude da lei do aborto. O tom geral
da conversa era que se poderia fazer tudo com facilidade, contanto que
se tivesse dinheiro. E perguntou: "Querem fazê-lo?"
Litchfield: "Sim. E ficará em oitenta libras?"
Pond: "Sim. Será mais caro se deixar para depois e também não
será fácil encontrar alguém que o queira- fazer. Querem consultar
o médico hoje? Estão de carro? Sabem onde fica a Harley Street?
É facílimo chegar lá".
Houve uma pausa enquanto ele folheava um livrinho preto, uma espécie
de fichário. Havia também três cadernos pretos com nomes e
endereços de médicos e clínicas.
"O médico estará aqui às três horas", acrescentou. "A Sra.
não poderá ser operada hoje. Talvez seja preciso consultar dois
médicos. Consultar-se-á com um dos médicos e ele se encarregará
de tudo e lhe dirá o que deve fazer. Ele pode pedir-lhe um exame de
sangue e outro exame qualquer e a operação será feita amanhã - se a
Sra. não tiver dificuldades quanto à data".
Não havia "mas" nem "porém", avisos ou precauções. Não nos
disse que só poderíamos fazer o aborto se tivéssemos razões sólidas
para isto, para que se agisse dentro da lei.
"A Sra. vai passar só uma noite na clínica", o Sr. Pond
explicou, entrando em detalhes: "Depois a Sra. volta para casa na
manhã seguinte. A clínica é aqui mesmo em Londres".
Litchfield: "E sobre o dinheiro?"
Pond: "Quanto mais cedo vocês forem consultar o médico, melhor.
Procurem hoje à tarde o Dr. Shoham e lhe perguntem como deve
pagar".
Litchfield: "Será que ele vai exigir pagamento adiantado?"
Pond : "Sim, sempre o exigem. Quase sempre esperam até
descontarem o cheque quando se paga em cheque".
Litchfield: "Ah, é assim? Então é melhor levar dinheiro
vivo".
Pond: "Acho que sim, porque vocês não têm tempo a perder. Mas
não se preocupem com isso agora. Perguntem ao Dr. Shoham. Falem
com ele".
Deu-nos um mapa da parte de Londres onde fica localizada a Harley
Street e o endereço do Dr. Shoham. Disse-nos também qual era a
estação do metrô que ficava mais perto'da Harley Street. Não
há nenhuma outra maneira de definir homens como o Sr. Pond a não
ser como rufiões dos abortadores.
"Aqui está: Dr. Shoham, Harley Street, 144", disse o
Sr. Pond. "Não sei se será fácil de estacionar nas
vizinhanças.
Entreguem ao Dr. Shoham os resultados do teste e fiquem com uma
cópia. Estejam lá às três horas. É a melhor hora. Sempre está
lá às quartas-feiras, das três às cinco".
Litchfield: "Lendo o folheto que o Sr. nos deu sobre o aborto,
fiquei pensando se nós estamos em condições de o fazer".
Pond: "Quando se procura um médico particular, trata-se sempre de
um profissional de idéias liberais. Não se está consultando um
médico da Saúde Pública. A Lei do Aborto diz que se o médico
vir que há risco para a saúde mental da paciente, pode praticar o
aborto. Os médicos particulares acham que se a mulher não quer a
gravidez, não a interrompendo ficará tão preocupada que haverá
risco de prejudicar a sua saúde mental".
Há uma interpretação completamente desvirtuada do ato do aborto.
Durante toda a nossa pesquisa deixamos bem claro que não tínhamos
nenhuma preocupação, nenhum problema, nenhuma angústia e que as
nossas únicas razões de querermos o aborto eram inteiramente
egoístas. Em outras palavras, não havia dúvidas de que queríamos
comprar um aborto ilegal. E em todas as ocasiões o conseguimos.
"A gente lê tantas coisas sobre as razões que deve ter",
Litchfield comentou, dando ao Sr. Pond a oportunidade de se
comprometer ainda mais.
Acompanhando-nos à porta, o Sr. Pond nos disse: "Bem, vocês
têm... sim... e ele (o médico) tem de assinar também um
documento para vocês. O caso é que dois médicos podem ter opiniões
diferentes. Consulta-se um e ele diz: 'A Sra. está preocupada
com isto, mas' não haverá nenhum risco para a sua saúde mental'.
Consulta-se outro e ele diz: 'A Sra. não pode levar essa
gravidez adiante porque está muito preocupada com ela"'.
Uma verdadeira farsa! Toda mulher grávida fica preocupada com o seu
estado. Seguindo esta maneira de pensar, toda mulher grávida -
casada ou solteira - deveria ter direito de abortar. A preocupação
não passa de uma emoção. Uma mulher pode preocupar-se porque não
é casada. A mulher casada pode preocupar-se, pensando que a
criança poderá nascer com algum defeito. Ambas as mulheres estão
preocupadas. Pode-se argumentar que a saúde mental de ambas as
mulheres está em perigo. Mas a resposta não é tirar a vida de outra
pessoa, de outro ser humano. A mulher casada precisa ter a certeza de
que sua criança será normal. A solteira precisa de compreensão e
compaixão e de pessoas que lhe dêem ajuda prática e construtiva, e
não ajuda destrutiva. A mãe solteira precisa de admiração, não
de desprezo. A sociedade deveria ser mais coerente. Se ela quer
condenar o aborto, não deve considerar uma vergonha o fato de uma
mulher ser mãe solteira. A jovem deve sentir-se orgulhosa de querer
ter um filho e não sentir-se vítima de um preconceito.
A menos de um quilômetro da "Ladycare" há outro consultório de
teste de gravidez. Este funciona na própria residência de um
farmacêutico.
Na sala de espera há prateleiras cheias de livros sobre o Nazismo, o
Fascismo, seleção natural e eutanásia. Havia seis livros
intitulados: Fascism, The Only Way (Fascismo: A Única
Saída), três volumes intitulados: Hitler's Dream (O Sonho de
Hitler). Outros livros: The Importance of the Third Reich (A
Importância do Terceiro Reich), Mosley, The Man for Britain
(Mosley - O Homem para a Inglaterra), e Fascists' Forum (O
Forum Fascista).
"Por favor, queira escolher um livro para ler" disse o farmacêutico
a Litchfield enquanto levava Sue para a outra sala. "Vai acha-los
muito interessantes, cheios de informações".
Quando voltaram para a sala de espera, Litchfield comentou: "Não
têm nada que me interesse. São todos sobre o Fascismo e sobre
Hitler".
"Não subestime o Fascismo", disse com voz firme o perito em teste
de gravidez. "Lembre-se de que a minha profissão tem muitas
relações com a seleção racial e a eutanásia. Este era o grande
sonho e a sublime filosofia de Hitler.
Neste setor de abortos há uma corrente forte da qual participam muitos
médicos, que acreditam no dogma de Hitler. O aborto deu a algumas
pessoas grande poder sobre a vida e sobre a morte. Aguardamos o tempo
em que a mãe terá o direito de matar o seu filho até algumas horas
depois do parto normal. Quando a criança nasce a mãe deve ter a
possibilidade de olhar bem para ela e ver se corresponde à sua
expectativa e resolver se ela deve continuar vivendo. Isto é o
ideal, o sonho, naturalmente. Mas ainda estamos muito longe do tempo
em que a sociedade em seu conjunto aceite uma coisa destas. Temos que
ir muito devagar.
Se se dissesse uma coisa destas logo no começo, quando entrou em
vigor a Lei do Aborto, teria havido protestos, o público teria
ficado horrorizado. Temos que conquistar nosso terreno centímetro por
centímetro. O próximo passo será a eutanásia. Estamos procurando
controlar a duração da vida de modo que a pessoa morra quando
completar sessenta anos, para que a maioria da população tenha de
vinte a cinqüenta anos. A maior parte dos médicos adeptos do aborto
e que o praticam, com os:. quais estou em contato, são defensores
desta causa. Os médicos, na Alemanha, estavam muito à frente de
Hitler: eram eles que forçavam Adolph a experiências cada vez mais
avançadas. Na Inglaterra foram os médicos que promoveram o aborto.
Viram no aborto o primeiro passo para as conquistas mais radicais.
Trata-se de uma questão de poder e de reforma do mundo".
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