"VOCÊ MOLHAVA A CAMA, QUANDO ERA CRIANÇA?"

O Dr. Phillip Maurice Bloom era um senhor sombrio, avançado em idade, de rosto triste como um "spaniel". Usava calças de listras, paletó preto, colarinho alto e engomado, colete, do qual pendia uma corrente de relógio segura numa casa de botão. A sua voz não tinha altos nem baixos. Falava com voz suave e monótona, quase hipnótica. Parecia a relíquia viva de uma idade passada que atravessara gerações, desafiando a intimação do túmulo.

O escritório do Dr. Bloom era uma sala pequenina, semelhante ao escritório de um tutor universitário, no fim de um corredor longo e tortuoso do andar térreo.

O diálogo completo desta entrevista também merece ser reproduzido, porque ilustra bem a farsa de tudo isso. Fazíamos todas as nossas perguntas sabendo antecipadamente o resultado e as conclusões. Uma vergonha total!

Dr. Bloom: "Quando é que vocês se casaram?"

Sue: "Este ano vai fazer seis anos".

Dr. Bloom: "Têm filhos?"

Sue: "Não".

Dr. Bloom: "Já esteve grávida?"

Sue: "Não".

Dr. Bloom: "Entendo que você não queira esta gravi

Sue: "Certo".

Dr. Bloom: "Os dois não a querem? Estão absolutamente certos disto?"

Sue: "Sim".

Litchfield: "Sim".

Dr. Bloom: "Agora gostaria de examinar sua mulher por alguns minutos, a sós. Poderia ter a bondade de passar para a sala de espera?"

Litchfield retirou-se para uma sala de espera espaçosa, no fim do corredor, ao lado da portaria. Começou o "interrogatório":

Dr. Bloom : "Você vem de uma família numerosa?"

Sue: "Não. Somos apenas meu irmão e eu".

Dr. Bloom: "Que idade tem seu irmão?"

Sue: "É dois anos mais velho que eu. Aliás, dezoito meses".

Sue estava dando respostas honestas sobre si, sobre sua verdadeira família e sobre seus antecedentes.

Dr. Bloom: "Como era sua família? Era normal ou não?"

Sue: "Sim, meu pai era tipógrafo e minha mãe trabalhava com ele, porque tinham uma tipografia. Freqüentei as escolas locais e só uma vez repeti de ano".

Dr. Bloom aproveitou-se imediatamente desta informação. "Ah! repetiu de ano?" perguntou. "E isto foi um golpe para você e sua família?"

Sue estava decidida a não lhe dar nenhum ponto de apoio, e respondeu: "Não. Eles não eram pessoas que se incomodassem com estas coisas".

Dr. Bloom: "E por que foi reprovada? Você não estudava ou sentia dificuldade natural nos estudos?"

Sue: "Bem, eu sempre digo que nasci com onze anos e que comecei a estudar só quando entrei no curso secundário. Penso que as crianças se desenvolvem em idades diversas".

Dr. Bloom: "Os seus pais se davam bem?"

Sue: "Sim".

Dr. Bloom : "Não brigavam?"

Sue: "Não. Realmente nunca vi um casal tão feliz. Penso que são pessoas de muita sorte".

Dr. Bloom: "Não houve nenhum caso de pessoa na sua família que sofresse de distúrbios nervosos ou mentais?"

Sue: "Não".

Dr. Bloom: "Seu pai ou sua mãe nunca foram ao psiquiatra ou ao médico para tratar de nervos ou coisa assim?"

Sue: "Não".

O Dr. Bloom estava achando um caso difícil de tratar. Sue não estava dando nenhum terreno em que se opoiar.

Dr. Bloom: "Teve uma infância feliz?"

Sue: "Sim".

Dr. Bloom: "Sua mãe tinha uma personalidade forte?"

Sue: "Não, meu pai era a personalidade dominante, é o que eu penso. Sim, muito mais que minha mãe".

Dr. Bloom: "Como você era em criança?"

Sue: "Era como?"

Dr. Bloom: "Como era sua personalidade?"

Sue: "Bem... é quase impossível dizer. Não me lembro de ter uma personalidade excepcionalmente forte em criança. Era uma criança feliz, tímida, creio. Um pouco, acanhada".

Dr. Bloom: "Por que assim? O que é que você acha?"

Sue: "Não havia nenhum motivo particular. Eu era assim. Nasci assim, penso".

Dr. Bloom: "Dava-se bem com as outras crianças, com as meninas da escola?"

Sue: "Sim, sim". Ela compreendeu onde é que a coisa ia chegar!

Dr. Bloom: "Você fazia amizades facilmente?"

Sue: "Sim".

Dr. Bloom: "Não tinha crises nervosas? Ou perturbações nervosas?"

Sue: "Não, não".

Dr. Bloom : "Nada do gênero?"

Sue: "Não".

O homem estava ficando desesperado!

Dr. Bloom: "Você molhava a cama quando era criança?" A solução imortal de todos os problemas psiquiátricos! Sue: "Bem, eu não me lembro exatamente se molhava a cama, mas meus pais falavam sobre isso. Que criança não molhou a cama? É comum a todas as crianças".

Dr. Bloom: "Até que idade?"

Sue: "Bem, devo ter parado provavelmente antes de ir para a escola, com quatro anos creio".

Dr. Bloom: "Você teve asma, eczema, doença de pele ou coisas parecidas?"

Sue: "Não".

Dr. Bloom: "Como você era de saúde e que doenças teve na infância?"

Sue: "Bem, eu devo ter tido todas as doenças comuns. Operei as amígdalas, penso que a doença mais esquisita que tive foi a escarlatina. Foi realmente a doença mais grave".

Dr. Bloom: "Seu pai e sua mãe lhe deram muito amor e afeto quando era criança?"

Sue: "Sim".

Dr. Bloom: "E na adolescência... Você era tímida, retraída?"

Sue: "Sim. Acho que mais do que quando era criança. Gostava de me isolar, mas por inclinação natural".

Dr. Bloom: "Você era um tipo solitário?"

Sue: "Um pouco. Mas porque queria. Sinto-me muito bem em companhia de mim mesma".

Dr. Bloom: "Algumas vezes sente depressão?"

Sue: "Sim, como a maioria das pessoas. Como o Sr. sabe, as coisas nem sempre andam bem e, me abatem".

Dr. Bloom: "Instável como os adolescentes, não?"

Sue: "Diria que fui bastante estável na minha disposição de espírito e que de vez em quando saía fora da linha como todo mundo".

Dr. Bloom: "Que idade você tinha quando saiu da escola?"

Sue: "Dezesseis anos".

Dr. Bloom : "Casou-se quando tinha perto de vinte e dois anos?"

Sue: "Sim, certamente".

Dr. Bloom: "Como foi seu casamento?"

Sue: "Foi excelente, e está indo muito bem".

Dr. Bloom: "E quanto ao sexo, tudo bem?"

Sue: "Sim. Muito bem, realmente".

Dr. Bloom: "Está completamente satisfeita?"

Sue: "Sim. Temos muita sorte e somos muito felizes".

Dr. Bloom: "Teve alguns problemas com pessoas nestes últimos anos?"

Sue: "Não. Não sou o tipo de mulher que gosta de se meter em problemas com outras pessoas, porque costumo evi tá-los".

Dr. Bloom: "Você guarda os seus sentimentos só para você, não é verdade?"

Sue: "Sim. É verdade. Não sou do tipo de pessoas que vivem chorando nos ombros dos outros. Mas naturalmente conto tudo a Michael".

Dr. Bloom: "Sente algumas vezes uma certa tensão interiormente?"

Sue: "Sim. É normal. Quando as pessoas me deixam nervosa sinto os músculos se contraírem dentro de mim".

Dr. Bloom: "E como isto se manifesta? Tem distúrbios intestinais ou coisas semelhantes?"

Sue: "Não, não. Acho que a única maneira como isto se manifesta é que eu passo a fumar muito mais que o ordinário".

Dr. Bloom: "Quantos cigarros você fuma por dia?"

Sue: "Cerca de sessenta, de quarenta a sessenta".

Dr. Bloom: "Você faz mais alguma coisa desse estilo? Tem tendência a ser perfeccionista em casa ou no trabalho?"

Sue: "Acho que tento ser perfeita. Gosto de fazer bem aquilo que faço. E acho sempre que estou muito aquém de onde gostaria de estar".

Dr. Bloom: "E sua mãe é também assim?"

Sue: "Não. Minha mãe é diferente de mim. Talvez pudesse dizer que me pareço mais com meu pai".

Dr. Bloom : "Seu pai foi mais importante para você do que sua mãe?"

Sue: "Sim, bem... mais importante? Suponho, porque o via menos. Ele era uma figura mais distante".

Dr. Bloom: "Você é o tipo de pessoa que gosta de ter as coisas bem arrumadas, tudo no seu lugar?"

Sue: "Teoricamente, sim, mas na prática não funciona tão bem".

Dr. Bloom: "Quando deixou o seu emprego?"

Tínhamos decidido que Sue se apresentaria como uma mulher que não tem nada para fazer, com todo o tempo livre, com todas as facilidades para tomar conta de um filho, sem que este constituísse uma ameaça para o nosso padrão de vida. .

Sue: "Faz mais ou menos uns três anos".

Dr. Bloom: "E como é que você ocupa o seu tempo?"

Sue: "Além do trabalho rotineiro de casa, que aliás toma bastante tempo, tenho muitas amigas e conseqüentemente uma vida social muito ativa durante o dia".

Dr. Bloom: "O que é que você faz?"

Sue: "Bem, é realmente uma vida um tanto preguiçosa. Uma ou duas vezes por semana, pela manhã, visito minhas amigas para tomar café com elas".

Dr. Bloom : "E você não gostaria de trabalhar?"

Sue: "Não preciso trabalhar".

Dr. Bloom: "Gosta do trabalho como dona de casa?"

Sue: "Para ser franca, não gosto de ser dona de casa. Gosto do trabalho feito, e gosto coe estar em casa, naturalmente, quando Michael está

Dr. Bloom: "Você nunca desejou ter filhos?"

Sue: "Não".

Dr. Bloom: "Tem idéia por quê?"

Sue: "Não gosto muito de crianças".

Dr. Bloom: "Você não adora as crianças, não é verdede?"

Sue: "Não! Quero dizer, gosto das crianças dos outros. Algumas das minhas amigas têm filhos adoráveis".

Dr. Bloom: "Tem medo da gravidez, ou de pôr uma criança no mundo?"

Sue: "Não, porque suponho que o parto atualmente não demora muito, não é verdade?"

Dr. Bloom : "Foi muito mimada quando pequena?"

Sue: "Sim, fui".

Dr. Bloom: "Era superprotegida, não era?

Sue: "Sim, era. Tive uma educação muito protecionista, sem dúvida".

Dr. Bloom: "E não sente mesmo nenhuma vontade de ter um filho?"

Sue: "Não".

Dr. Bloom: "Nem apenas um?"

Sue: "Não".

Dr. Bloom: "E o seu marido?"

Sue: "Ele também não quer".

Dr. Bloom: "Ele também não quer! Ele é uma pessoa muito calma e tranqüila, não é verdade?"

Sue: "Sim. No momento está com um pouco de dor de garganta".

Dr. Bloom: "É um homem de maneiras discretas, não é?"

Sue: "Sim, ele é um homem de maneiras discretas, mas tem pontos de vista bem definidos".

Dr. Bloom: "Vem de uma família numerosa?"

Sue: "Não tem irmãos".

Dr. Bloom: "Então é filho único?"

Sue: "Sim".

Dr. Bloom: "Também teve uma educação normal?"

Sue: "Sim".

Dr. Bloom: "Também foi mimado pela família? É o que suponho".

Sue: "Acho que a sua educação foi bastante normal, que eu saiba. Não teve uma educação severa, nem o que se pode chamar uma má educação".

Dr. Bloom: "Já falou com o seu médico sobre isto? Ou ainda não o consultou?"

Sue: "Não, ainda não consultei o meu médico".

Dr. Bloom: "Tem algumas preocupações?"

Sue: "Não".

O Dr. Bloom, então, telefonou ao porteiro do edifício e informou que Litchfield podia entrar para tomar parte na entrevista. Antes que Litchfield chegasse à sala, o Dr. Bloom disse: "Você não acha que mais tarde vai sentir solidão se não tiver filhos?"

Sue: "Não. Acho que não".

Nisto Litchfield entrou na sala.

Sue: "Você acha que sentiremos solidão mais tarde se não tivermos filhos, Michael?"

Litchfield: "Acho que não".

Dr. Bloom: "Como são as suas relações com os seus pais? São boas?"

Sue: "Sim, excelentes".

Dr. Bloom (dirigindo-se a Litchfield): "Seus pais estão vivos?"

Litchfield: "Sim, estão".

Dr. Bloom: "Você se dá bem com eles?"

Litchfield: "Sim, muito bem".

Dr. Bloom: "Também não quer ter filhos?"

Litchfield: "Ah, não sei... Resolvemos não ter filhos no momento. É a nossa maneira de pensar atualmente".

Litchfield mostrou de propósito uma atitude ambígua, dando ao Dr. Bloom oportunidade de aproveitar-se dessa hesitação para ampliar a enormidade do que tínhamos em mente. Pelo contrário, o Dr. Bloom continuou: "Não têm nenhum desejo de ter crianças em casa?"

Litchfield: "No momento, não".

Dr. Bloom: "Mas um dia, talvez?"

Sue: "Ah, essas coisas a gente vai deixar para pensar depois, não é verdade?"

Dr. Bloom: "E no momento não pensam assim?"

Sue: "Não".

Dr. Bloom : "Bem, não veio nenhuma razão de ter um filho que não se quer. Já pensaram em adotar uma criança?"

Sue: "Não. Realmente nunca pensamos nisto".

Dr. Bloom: "Você não quer continuar a gravidez?"

Sue: "Não".

Dr. Bloom: "Você está certa cem por cento de querer interromper a gravidez?"

Sue: "Acho que é a melhor coisa que poderia fazer, não é verdade?"

Dr. Bloom: "Estou lhe perguntando o que é que você pensa".

Sue: "Penso que sim".

Uma vez mais mostramos certa hesitação, quase pedindo ao Dr. Bloom que defendesse a causa da criança e que lutasse para poupar uma vida.

Dr. Bloom: "Você está cem por cento certa de que não quer a criança? Quer interromper a gravidez?"

Esta maneira de encarar a questão nos encostava contra a parede. Era mais para enrijecer as nossas opiniões do que para pô-las em discussão.

Sue: "Sim".

Dr. Bloom (dirigindo-se a Litchfield): "E você concorda?"

Litchfield : "Sim".

Dr. Bloom: "Penso que não é uma coisa boa ter uma criança que não se quer. Você é uma pessoa que provavelmente terá muita tensão nervosa e por isso a tendência é para piorar. Não acha? Você é um pouco nervosa".

Sue: "Hum!..."

Litchfield: "Não diria que seja um tipo dado a ansiedades".

Dr. Bloom: "Não?"

Sue: "Não".

Dr. Bloom (dirigindo-se a Litchfield): "Ela fica matutando nas coisas? Ela tem apego às próprias idéias? De modo a lhe causar preocupações?"

Sue: "Sou muito teimosa".

Dr. Bloom: "Era isso que eu queria saber. E algumas vezes se preocupa com o que deveria ter feito? Por exemplo, depois de escrever uma carta e tê-la enviado pelo correio não se pergunta a si mesma: 'Não deveria ter escrito outra coisa?'".

Ele parecia desesperado para conseguir que Sue admitisse que era um tipo preocupado, mas nós não tínhamos nenhuma intenção de fornecer-lhe qualquer apoio ou desculpa para que ele pudesse subscrever um formulário de consentimento de aborto.

Então Sue disse: "Oh, não. Para mim, quando uma coisa está feita, está feita. Acabou-se".

Dr. Bloom : "Você nunca saiu de uma sala e voltou para ver se tinha apagado a luz?"

Que palhaçada!

Sue: "Não. Penso que o que é, é. Se uma casa está pegando fogo, quer dizer que ela está pegando fogo".

Dr. Bloom (a Litchfield): "Que espécie de personalidade você acha que é a dela?"

Litchfield: "Um caráter fácil de tratar, fácil de conviver. O Sr. está pensando em algum aspecto em particular?"

Dr. Bloom: "Eu gostaria de saber como você a considera. Como é que você me descreveria sua mulher. Que tipo de personalidade você lhe daria".

Litchfield: "É uma mulher muito séria. Uma pessoa que pensa. Nunca faria nada sem pensar".

Dr. Bloom: "Muito bem. Fiquem à vontade agora, que vou escrever uma carta ao Dr. Ashken. Escrevo a carta agora, porque se a ditasse 'à minha secretária, a carta não chegaria tão depressa às suas mãos".

Sue: "Nós devemos voltar lá. Quer que a levemos?"

Dr. Bloom: "Sim, é esta a minha idéia. Ele quer saber como vão as coisas e o que é que eu penso".

Houve uma longa pausa depois da qual ele disse: "Eu assino o formulário para vocês o levarem ao Dr. Ashken".

Sue: "E nós devemos assinar este formulário?"

Dr. Bloom : "Não. Este é o formulário oficial exigido pelo governo apenas para anotar quais os motivos para interromper a gravidez. Vai para um fichário, para um arquivo, e nunca mais será visto por ninguém".

Sue: "E quais serão os motivos?"

Dr. Bloom: "Motivos de ordem psicológica. Você é fisicamente capaz de ter um filho, o parto não lhe fará absolutamente nenhum mal fisicamente. Por isso devo dizer que você terá graves reações de ordem psicológica... E é isto realmente o que estou escrevendo. É isto que o governo quer saber, ou o que o parlamento diz que o governo quer saber; é dever deles querer saber".

Sue: "Depois jogam aí em qualquer lugar, não é verdade?"

Dr. Bloom: "Vai para o Ministério da Saúde e Previdência Social. E, como lhes disse, quando chega lá, eles dão uma olhada, notam que foi assinado por médicos e procuram ver as razões do aborto. Inteiram-se dessas duas coisas e é só. Mais um número para as estatísticas, um caso de rotina".

Uma simples rotina, simplesmente outra morte, simplesmente outra estatística, simplesmente um fato sem importância que vai acabar num arquivo morto...

Dr. Bloom: "Querem ter a bondade de levar esta carta ao Dr. Ashken! Quando ele a ler, vai dar andamento ao caso. Minha secretária não está no momento, portanto eu receberei o pagamento da consulta".

Litchfield: "Quanto é?"

Dr. Bloom: "Dez guinéus".

Litchfield pagou os dez guinéus pelo formulário de aborto assinado e pela carta do Dr. Ashken.

"Muito obrigado", disse o Dr. Bloom. "Vão agora direto ao Dr. Ashken".

Nós não voltamos ao Dr. Ashken, mas guardamos o formulário de aborto, assinado e carimbado, e também a carta do Dr. Bloom que publicamos abaixo.

A carta do Dr. Bloom ao Dr. Ashken dizia:

"A paciente; a mais nova de dois filhos, foi mimada e superprotegida quando criança. Seus pais trabalhavam num negócio de que eram proprietários e penso que, talvez em virtude disso, ela sentiu falta de carinho na infância.

Há sintomas de alguns distúrbios precoces. Molhava a cama, e na adolescência era tímida, insegura e solitária. Controla as suas emoções, mas sente uma certa tensão íntima.

É também obsessiva, o que se revela no fato de ela fumar cinqüenta cigarros por dia e ter mania de perfeição em tudo o que faz. De fato, tem sentimentos de culpa, se não consegue a perfeição que deseja. Não tem sentimentos maternais, é uma pessoa emocionalmente imatura e poderia reagir de maneira neurótica a uma gravidez que lhe fosse forçada.

Seu marido era filho único, é uma personalidade passiva e neuroticamente dominado por ela. Demonstra um estado de ansiedade reativa e penso que, em tais circunstâncias, estaria de acordo em interromper a gravidez".

Esta carta é o comentário mais eloqüente que se poderia fazer a tudo isto. Basta ler a transcrição da entrevista com o Dr. Bloom e estudar a sua carta, para se dar conta imediatamente da farsa. A gravidez é algo muito mais importante do que ter molhado a cama quando criança!

Imediatamente depois que nos despedimos dó Dr. Bloom, telefonamos ao Dr. Ashken. Dissemos-lhe que o formulário do aborto tinha sido assinado pelo Dr. Bloom. O Dr. Ashken disse: "Muito bem. Magnífico!" Perguntamos ao Dr. Ashken se ele também tinha de assinar e ele respondeu: "Sim. Quando vocês vierem aqui. Posso fazer a operação neste fim de semana, provavelmente numa clínica na zona norte de Londres".

A importância da transcrição da entrevista com o Dr. Bloom está no fato, que não deixa lugar à menor dúvida, de que existe um negócio organizado de aborto sob encomenda. Ninguém poderia negar o fato de que as respostas de Sue revelavam uma pessoa adulta, completamente normal e equilibrada. Se ela tinha motivos justos para fazer um aborto em conseqüência dessa entrevista, então não existe nenhuma mulher apta a ter um filho. O Dr. Bloom simplesmente perguntou se queríamos ou não um filho. Dizer que não queremos um filho e fazer um aborto baseado neste motivo é um aborto sob encomenda. Os médicos devem estabelecer, independentemente da vontade da mãe, se é prejudicial ou não para ela ter um filho. A distinção portanto não é tão sutil.

Pedimos, não com muita insistência, quase tacitamente, um aborto para Sue, e este aborto foi assinado e selado sem a menor dificuldade. Bastou uma pequena quantidade de notas sujas de libra. Nada mais...


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