III

INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS



MANEIRA "CARIDOSA" DE MATAR

O "Brook Advisore Centre" (Consultório Brook) ocupa quatro andares do n. 233 da Tottenham Court Road, rua central de Londres. Por fora parece um lugar tosco, sem nenhuma característica, tão anônimo e sem individualidade como a multidão que lhe passa diante, desde as primeiras horas da manhã até as últimas da noite. Mas internamente a sua decoração é alegre e vivaz. Há uma atmosfera arejada, sem o cheiro antisséptico, característico dos ambientes médicos. As paredes eram pintadas em cores pastel. O pessoal de serviço vestia aventais imaculadamente brancos. As revistas da sala de espera eram publicações caras e relativamente recentes. Enquanto os pacientes esperam a consulta do médico, podem pedir café, chá e biscoito.

Resolvemos telefonar antes para o "Brook Advisore Centre", para fazermos uma idéia do lugar e conhecer antecipadamente as suas características. Sue falou com uma mulher do "departamento de gravidez", que se desculpou pela demora em atender ao telefone.

"Estou grávida", disse Sue sem gastar muitas palavras. "Gostaria de saber se podem me ajudar".

"Tenha a bondade de vir até aqui trazendo uma amostra de urina matinal. Como a Sra. se chama?"

Sue usou nesta ocasião o nome de Clarke. "Se podem ajudar-me, será que pode ser logo?" insistiu Sue.

"Bem, não será preciso muito tempo", prometeu a mulher. "Se o médico julgar que pode ajudá-la, será imediatamente, dentro de poucos dias".

Sue tinha perguntado se o centro poderia ajudá-la, e a mulher admitiu imediatamente, sem outras explicações, que nós estávamos procurando fazer um aborto. Novamente aqui estávamos diante de uma mentalidade abortista: o aborto tinha-se tornado um lugar comum, tão corriqueiro e tão universalmente aceito, que a mulher não podia entender que Sue lhe tivesse telefonando por outra razão a não ser porque queria abortar. De certo modo ela era um triste reflexo do clima abortista. O triste reflexo da morte que ameaça as crianças que são massacradas enquanto ainda estão ao abrigo do seio materno.

Sue perguntou: "Quanto vai custar?"

A mulher: "Não lhe poderia dizer".

Sue: "Mas a Sra. não tem nem uma idéia aproximada?"

A mulher: "Bem, você poderia fazer tudo pela Saúde Pública. Mas este é um assunto que deve discutir com o médico. Não lhe posso dizer nada agora".

Sue: "E se eu não poder fazer pela Saúde Pública?"

A mulher: "Particularmente? Não sei". Houve um momento de silêncio e depois a mulher dirigiu-se a alguém na mesma sala: "Quanto custará um aborto?" De posse das informações, ela retomou a sua conversa com Sue. "Entre 50 e 70 libras", disse.

Sue: "Posso vir com meu namorado?"

A mulher: "Pode trazer com a Sra. quem quiser, contanto que traga a urina. Isto é que é o importante". E deu uma sonora gargalhada.

Sue: "Não estou pensando em trazer toda a família".

A mulher: "Olha aqui, querida. Diante de minha escrivaninha já está se formando uma fila. Disse-lhe que você deve trazer uma amostra de urina. Pode trazer seu namorado, sua tia, sua mamãe, ou seu primo. O que seu namorado pensa a respeito do caso não tem importância. O que vale é o que o médico daqui pensa sobre o assunto. Entendeu? Tchau".

Com isto a bem-humorada mulher da "Brook Advisore Centre" desligou o telefone.

Quando fomos ao "Brook Advisore Centre", quatro dias mais tarde, Sue adotou o seu segundo nome, Joy, e seu nome de solteira, Wood. Neste teste nós representamos os papéis de uma moça solteira e um homem casado, que tínhamos tido um caso.

Na recepção Sue disse: "Penso que estou grávida. Trouxe uma amostra de urina e gostaria que me ajudassem".

Então a recepcionista informou: "Suba as escadas e fale com a funcionária encarregada'..

Sue subiu ao primeiro andar onde estava a encarregada, e esta lhe perguntou: "A Sra. está inscrita aqui?"

Sue respondeu: "Não, não estou".

Funcionária: "É sobre controle de natalidade?"

Sue: "Não. Eu acho que estou grávida".

Funcionária: "Então deve fazer um teste".

Sue: "Sim. Eu trouxe a urina".

Funcionária: "Certo. Como é que a Sra. se chama?" Sue forneceu os detalhes e perguntou: "Quanto cobram pelo teste?"

Funcionária: "Nada, é grátis. Quem lhe falou da nossa clínica?"

Sue: "Não lhe saberia dizer de momento".

Funcionária: "A Sra. tem médico particular?"

Sue: "Não".

Funcionária: "Aqui está o seu cartão de inscrição. Vai precisar dele quando voltar".

Sue: "Quem é que eu devo consultar?"

Funcionária: "Tem que consultar a enfermeira". Encaminharam Sue para o segundo andar, onde ela entrou em contato com a enfermeira. Nova sessão de perguntas e respostas.

Enfermeira: "Que idade você tinha quando teve as suas primeiras regras?"

Sue: "Acho que uns doze ou treze anos".

Enfermeira: "Usa algum anticoncepcional, ou apenas confia na sorte?"

Sue: "Meu namorado estava usando preservativo".

Enfermeira: "Sempre achamos melhor que, quando o homem usa o preservativo, a moça use o pessário.. . A Sra. acha que está grávida?"

Sue: "Sim. E eu gostaria de saber se podem me ajudar, se eu estiver grávida".

Enfermeira: "Naturalmente!"

Sue: "Só que não sei se tenho razões sólidas para fazer aborto".

Enfermeira: "Bem. Vejamos o que os médicos vão dizer. Você precisa de mais de um médico".

Sue: "Mais de um médico?"

Enfermeira: "Vai consultar um médico hoje, mas voltaremos a falar sobre o assunto. Como é que ficou sabendo da nossa clínica?"

Sue: "Não me lembro bem. Já ouvi falar no nome".

Enfermeira: "Está no jornal. Muitas de nossas pessoas aparecem ria televisão". A enfermeira começou a examinar a urina.

Sue: "É uma coisa fascinante! Que é que a ira. está procurando ver?"

Enfermeira: "Bem. Estou procurando verse há mudanças... Dê uma olhadinha..."

Sue: "Se vocês puderem me ajudar, vai ser muito caro?"

Enfermeira: "Se for à Saúde Pública não vai lhe custar nada. Mas se não for, os casos que a gente resolve aqui custam cerca de 60 libras. Eu trabalho para a 'Family Planning Association' (Associação de Planejamento Familiar). Não aqui. Trabalho em Sussex. Venho de Guilford. muito longe. Parece-me que você está grávida, querida. (Sue pensava consigo mesma: 'Outra gravidez-fantasma!'). isso mesmo, acredito. Você já esperava, não? Tinha certeza, não?"

A única coisa que Sue sabia era que não estava, e que nem era possível estar.

Sue: "A Sra. faz conferências para os que trabalham para `Family Planning Association', não é mesmo?"

Enfermeira: "Sim. Parteiras e pessoas do gênero. É fácil falar para os que trabalham em nosso campo, mas para essas jovens esposas a coisa é diferente: elas querem saber demais. Deve-se ter muito cuidado com o que se diz, você me entende? Não se pode ofendê-las de modo nenhum".

A enfermeira saiu da sala durante algum tempo, e quando voltou disse: "É positivo. Querem falar com mais alguém sobre o assunto? O nosso médico teve que sair agora. Mas vou ver se posso arranjar outro".

Sue: "Quanto tempo a Sra. pensa que vai levar para resolver este meu caso?"

Enfermeira: "Muito pouco tempo, julgo eu. Mas deixemos isto para o médico. Vou marcar-lhe uma hora para hoje à tarde: digamos às duas e quinze, para você falar com uma pessoa que vai orientá-la, e em seguida fará uma consulta com o Dr. Chisholm".

A tarde o conselheiro, que também é magistrado, incentivou Sue a abortar dizendo: "Procurar ter uma criança como mãe solteira, não é muito recomendável. Pode-se ter, mas não aconselho". E voltando-se a Litchfield, disse : "Também não faria muito bem ao seu casamento, não é verdade? Acho que a única solução neste caso é o aborto".

Este não era um aborto sob encomenda. Era aborto por persuasão.

O próximo passo foi no terceiro andar. Lá encontramos outra enfermeira, mulher de feições duras, inexpressivas e cruéis. Seu olhar era gelado e insensível. Seus lábios eram finos e enrugados. No seu avental branco, parecia uma figura inanimada, de mármore. Chamava-se Fletcher.

"O relatório do conselheiro é favorável?"; perguntou Litchfield.

"Sim", disse a enfermeira. "E a Sra. vai consultar o médico. Correrá tudo muito bem. O médico que vai consultar é o Dr. Naylor, mas antes vai dar uma passada pelo Dr. Chisholm, para que ele a examine. O Dr. Chisholm concordou em vê-Ia. Ele é muito simpático. Podem entrar os dois, se quiserem".

Sue: "O Dr, Naylor nos receberá hoje à tarde também?"

Enfermeira: "Talvez hoje à noite. Ele é muito bom, o Dr. Naylor".

Litchfield: "Então podemos fazer tudo hoje, assinar tudo hoje?"

Enfermeira: "Diria que sim. Quanto mais depressa me-, Ihor. Você não está preocupada, está?"

Sue: "Não. A gente tem que aceitar estas coisas com filosofia!"

Enfermeira: "Claro! Naturalmente! É algo que nos pode acontecer, e acontecendo, temos de resolver o que é melhor. Aliás, somente a Sra. pode resolver. Vocês são duas pessoas, plenamente adultas, e assim podem discutir o caso e chegar a uma conclusão de bom senso. Sem sentimentalismos. Têm de ponderar tudo. E ter a cabeça no lugar".

Sue: "E as pessoas que são contra?"

Enfermeira: "Bem. Elas são contra por várias razões. O mundo está horrivelmente superpovoado e as pessoas não são felizes".

Agora estão dizendo que a felicidade vem em forma de um aborto fácil!

A enfermeira explicou ainda: "A pessoa só deve ter filhos quando os quer, no tempo que os quiser. Isso é o que eu penso. Não quando a natureza estabelece, porque a natureza estabelece demasiado freqüentemente, se a mulher é fértil. Eu que lho diga. É a coisa mais fácil do mundo ficar grávida".

Esta mulher é incrível. Mas posso assegurar-lhes que é uma pessoa autêntica, real, e não uma personagem fictícia, introduzida em nossa narração para dar uma nota alegre, como um bobo de corte.

E continua: "Procurei, em toda minha vida, fugir da gravidez. Graças a Deus sou casada e tudo o mais. Quero dizer: sei exatamente como são as coisas. Entretanto, o caso é que tenho três filhos. Fiz um aborto espontâneo, muito grave, e então me disseram: 'Você não terá mais filhos', e não os tive mais. Até aí tudo bem, não? Mas houve um acidente". Nisto ela deu uma horrível gargalhada.

Felizmente a chamada do Dr. Alexander Chisholm nos poupou o "prazer" de continuar ouvindo aquelas pérolas de sabedoria. Ele era um homem de meia idade, com ares de uma pessoa muito distraída, alto, magro, ombros encurvados, usava óculos, e nos estudava por cima das lentes, atrás de sua escrivaninha.

O Dr. Chisholm, evidentemente, não estava muito bem informado. "São o Sr. e a Sra. Wood, como suponho, não?" disse-nos para início de conversa.

"Não, não somos", disse Litchfield.

"Sou eu que me chamo Wood", explicou Sue.

"E eu sou seu amigo", disse Litchfield.

Dr. Chisholm, dando uma risadinha: "Seu amigo, sim! Está bem! Acho que não conheço os senhores. Nunca estiveram aqui, não é verdade? Acho que é a primeira vez".

Sue: "É verdade".

Dr. Chisholm; abrindo o fichário: "Já falaram com a conselheira..., mas sobre quê? Ainda não falei com ela. Não estou sabendo do que se trata".

Sue: "Ela nos perguntou se queríamos a criança ou não, e fez outras perguntas relacionadas com este assunto".

Dr. Chisholm, um pouco surpreso: "A senhora está grávida? Ah, sim! Não notei isso. Não tive ainda tempo de dar uma olhada nos apontamentos. Sim (olhando a ficha mais atentamente), foi um teste positivo de gravidez. E a Sra. não vê possibilidade de continuá-la, não é verdade?"

Sue: "Não, não seria muito conveniente. Ela (a conselheira) escreveu alguma coisa a respeito".

Não seria muito conveniente... Nós deveríamos ter sido postos no olho da rua, como seria justo fazer com a pessoa repelente com quem estávamos tratando.

Dr. Chisholm: "Agora vou ler tudo. Vocês acham que é uma situação impossível, atualmente, no relacionamento em que estão?"

Sue: "Hum..."

Litchfield: "Sim".

Dr. Chisholm : "Agora vou considerar todos os dados. Vocês não querem que isso aconteça novamente. É muito desagradável, e muito penoso. Não só do ponto de vista médico ou físico, mas também sob o aspecto emocional. E o seu médico o que é que diz? Posso escrever-lhe? Dir-lhe-ei que de agora em diante a Sra. tomará a pílula. Ou prefere que não escreva?"

Sue: "Preferiria que não escrevesse. Deixe-me pensar".

Dr. Chisholm: "Está bem. Deixaremos a coisa em suspenso. Que doenças a Sra. já teve? Já teve doenças graves?"

Sue: "Não, graças a Deus gozo de muito boa saúde e sempre fui saudável. Quando criança tive apenas as doenças comuns da infância".

Dr. Chisholm: "Está fazendo agora algum tratamento?"

Sue: "Não".

Dr. Chisholm: "Já foi operada?"

Sue: "Sim, já fui operada de um quisto no ovário e de apendicite".

Dr. Chisholm: "A Sra. sabe qual é o seu grupo sangüíneo?"

Sue: "Não tenho a menor idéia".

Dr. Chisholm: "Sua mãe ou seu pai sofrem de pressão alta, ou têm doenças cardíacas?"

Sue: "Não".

Dr. Chisholm: "Há algum caso de diabetes em família? Já teve hicterícia? Sofre de dores de cabeça ou enxaqueca? Usa lentes de contato? Nunca esteve grávida antes?"

Sue: "Não, não, não, não, não".

Dr. Chisholm: "Então está bem, tudo em ordem. Acho que se não houver dificuldade da sua parte, farei hoje um exame na Sra. para determinar o estado de gravidez, e ao mesmo tempo faremos um teste de secreção".

Sue: "Para que serve este teste de secreção?"

Dr. Chisholm: "Bem, trata-se simplesmente de excluir o câncer. Temos de fazê-lo, de qualquer modo e o fazemos sempre. Mas não é nada, não se preocupe. É uma coisa muito insignificante. Faz parte do exame geral".

Sue: "Pode prejudicar o feto?"

Dr. Chisholm: "Não o prejudica em absoluto. Mas eu pensava que vocês tinham resolvido interromper a gravidez".

Sue: "Sim".

Dr. Chisholm: "E não há possibilidade da Sra...?"

Sue: "Não. O teste de secreção não teria nenhum efeito não é verdade?"

Dr. Chisholm: "Absolutamente nenhum. Mas provavelmente, se a Sra. fosse continuar com a gravidez, creio que evitaria estes exames".

Este é o ponto importante. Uma jovem poderia submeter-se a estes exames e depois mudar de opinião acerca do aborto, mas o dano já teria sido causado. O Dr. Chisholm sugeria, portanto, que havia risco para qualquer mulher que "continuasse com a gravidez até o fim".

Dr. Chisholm continuou: "Quero dizer, vocês estão- resolvidos mesmo, não é verdade? Suponho que já decidiram de comum acordo?"

Uma vez mais estamos diante do aborto por encomenda. A questão era termos decidido ou não - nós é que devíamos decidir, não ele o médico, como estipula a lei.

Sue: "Acho que já decidimos, não é verdade meu bem?"

Litchfield: "Sim".

Estávamos jogando palavras e expressões como "penso", "nós pensamos", de modo que ficasse claro que deixávamos margem para que ele nos persuadisse. É pedir muito a uma pessoa que gaste um pouco de tempo e esforço na causa de salvar a vida de uma criança?

Dr. Chisholm: "Bem. Se vocês têm alguma dúvida sobre o assunto, deixarei o exame de secreção para uma outra vez, e faço agora apenas o exame interno comum. Preferem assim?"

Sue: "Acho melhor".

Dr. Chisholm: "Então está bem".

Sue: "Eu não estava realmente esperando ser examinada hoje".

Dr. Chisholm: "Hum... Não sei".

Sue: "Apenas trouxe uma amostra de urina. Foi tudo muito inesperado".

Dr. Chisholm: "Estou em dúvida se querem que eu continue os exames e recomende o aborto".

Sue: "Sim".

Dr. Chisholm: "Desconheço também o fator tempo. A única maneira para determinar o estado real da gravidez, o número de semanas da gravidez, é fazer o exame. E então... hum... em igualdade de condições, julgo que no momento presente tudo indica que agora não é o tempo indicado para continuar com a gravidez... Portanto, em vez de deixar sem ajuda, recomendaria o aborto, e o faria hoje mesmo".

Litchfield: "E não poderia haver algum problema com isto?"

Dr. Chisholm: "Penso que não, mas... depende das possibilidades que vocês têm de continuar a gravidez. Meu ponto de vista é que se vocês estão com dificuldade a respeito do caso, e se vai ser um problema sério para vocês ter filho agora, e possivelmente criará dificuldades para a futura criança, considerando que é uma criança indesejável nas circunstâncias, então é melhor, bem no começo da gravidez, interrompê-la devida e cientificamente.

Depois, você pode ficar grávida quando quiser. Mas, sempre, naturalmente, deixamos tudo em suspenso mesmo no caso em que o aborto pareça absolutamente essencial; de tal modo que sempre haja tempo para decidir não praticar o aborto".

Litchfield: "Penso que Joy queria dizer que se o Sr. faz o exame hoje e se depois ela resolver não interromper a gravidez, o exame não causaria nenhum dano?"

Dr. Chisholm: "Oh, não, não, não. Mas acho que se vocês estão pensando em não fazer o aborto, provavelmente será melhor não fazer o exame de secreção, embora duvide muito que possa causar qualquer dano que seja. O exame comum não causa nenhum distúrbio em absoluto. Assim, não vamos fazer o exame de secreção. Não há necessidade. Como disse, é um exame apenas para excluir o câncer, e podemos fazê-lo da próxima vez que voltarem aqui. Mas... hum... penso que antes de tudo deve-se levar em consideração o fator tempo, e depois prosseguir. Vou receitar-lhe uma pílula apropriada, se a Sra. resolver continuar usando a pílula. Se está decidida a abortar agora, pode começar a usar a pílula imediatamente. No dia da operação. É o que eu recomendo".

Sue: "Sim, é uma idéia muito boa. Sair da clínica e começar a tomar a pílula no mesmo dia".

Dr. Chisholm: "A Sra. começa a toma-la enquanto ainda está na clínica, no próprio dia da operação. E, naturalmente, entende que precisa também ser examinada pelo Dr. Naylor. Aliás, onde quer que a senhora vá deve fazer um segundo exame".

Litchfield: "É uma clínica particular?" .

Dr. Chisholm: "Penso que sim. Conheço a clínica indicada pela conselheira".

Então o aborto já estava marcado e providenciado, mesmo antes de Sue ser examinada ou entrevistada por um médico, e mesmo antes de ter ela decidido positivamente submeter-se ao aborto.

O Dr. Chisholm continuou: "Estou notando que ela (a conselheira) fez uma observação aqui que a Sra. deve consultar o Dr. Naylor, possivelmente na quinta-feira à tarde. Bem, está vendo que depende realmente de quantas semanas está grávida, embora não pode estar com mais de oito semanas, segundo a minha opinião. Porém, quanto mais cedo for feito, melhor".

Sue: "Se a operação for feita cedo, será mais fácil?"

Dr. Chisholm: "Bem. É muito menos... o fator segurança, quanto mais cedo se fizer, mais seguro será".

Sue: "Quem é que vai fazer a operação?"

Dr. Chisholm: "Não sei. Poderá ser o Dr. Naylor".

Sue: "Ele é ginecologista?"

Dr. Chisholm: "Sim, sim. Depende de onde será feita a operação e em que condições. Para falar a verdade, não é muito da minha alçada. Estou aqui apenas para orientar as pessoas. Penso que seria mais justo que tudo fosse arranjado por nós".

Dr. Chisholm continuou: "Estou aqui para receitar-lhe a pílula, mas... o Sr. poderia fazer o favor de ficar lá fora enquanto a examino?" Ele deu uma olhada em Lichfield, que deixava a sala.

"Soube hoje, não é verdade?" perguntou Chisholm a Sue.

Sue: "Sim".

Dr. Chisholm: "Mas você deveria sentir que provavelmente estava grávida, não?"

Sue: "Bem, senti um pouco de enjôo. Mas não podia ter certeza se não era proveniente de alguma coisa que eu tivesse comido".

Dr. Chisholm: "Oh, não, não. É assim mesmo. Vou usar o espéculo para examina-la, portanto, trata-se apenas de um exame interno e não lhe causará nenhum transtorno. Mas se a Sra. estivesse resolvida mesmo a fazer o aborto, eu faria o exame de secreção ao mesmo tempo... O teste foi feito aqui mesmo, não foi?"

Sue: "Sim. Esta manhã".

O exame foi feito rapidamente.

"Penso que não está tão adiantada como a senhora crê", comentou ele.

Sue: "Quantas semanas?"

Dr. Chisholm: "Quatro, cinco, talvez seis".

Como pode ser que tantos médicos qualificados examinassem Sue internamente, e tivessem todos afirmado que ela estava grávida quando sabemos muito bem que ela nunca esteve grávida em sua vida, e que cada um indicava uma fase de gravidez totalmente diferente? Muito estranho, para não dizer sinistro. Um diagnóstico errado, um engano, poderiam ser aceitáveis e desculpáveis. Mas, sempre, e em toda parte, é muito para ser tachado de mera coincidência ou de negligência profissional.

Sue perguntou: "Como é que sabem? É pelo tamanho do útero?"

Dr. Chisholm: "Sim, é pelo tamanho do útero. Você está com cerca de seis semanas, julgo. Com certeza, não passa daí".

Sue: "Bem. Sei que se pode passar um mês sem ter menstruação, por razões emocionais etc."

Dr. Chisholm: "Mas o fato é que a Sra. fez um teste de gravidez que deu positivo... Se não se puder sentir o fundo do útero distintamente, não se pode determinar o tamanho, e por isso estou um pouco em dúvida... Penso que a Sra. vai consultar o Dr. Naylor, não é verdade?"

Sue: "Sim. A forma do útero é que determina a fase da gravidez?"

Dr. Chisholm: "A Sra. entende que o útero se dilata à medida que a gravidez progride. Portanto, se a gente pode sentir o fundo do útero de uma maneira distinta, pode-se então determinar quanto esteja alto com relação ao pélvis, e esta é a maneira como se sabe. Mas como não posso sentir distintamente o fundo do útero, não posso determinar exatamente a fase da gravidez. Parece-me que a Sra. não pode estar grávida de mais de algumas semanas".

Sue, sorrindo, disse: "Então eu estou realmente grávida, não é verdade?"

"Bem, é bastante difícil ter certeza absoluta, devo confessá-lo. Mas se o teste é positivo, então não tenho mais dúvidas".

O Dr. Chisholm, então, chamou Litchfield.

"Gostaria, afinal, que eu lhe receitasse a pílula?", perguntou o Dr. Chisholm a Sue.

Sue: "Por favor".

Dr. Chisholm: "Estou pensando... Poderiam esperar um pouco lá fora, para que troque algumas idéias com a conselheira? Como estão vendo, não tive chance ainda de dar uma palavra sobre o caso".

Sue deixou a sala por alguns minutos, até que a chamaram novamente. Quando ela entrou, o Dr. Chisholm estava falando ao telefone. Dizia: "Lamento não ter conseguido a altura do... Embora o teste seja positivo, existe a possibilidade de ela não estar grávida. Procurei entrarem contato com a conselheira, mas infelizmente ela já saiu". De pois disse, dirigindo-se a Sue:

"O Dr. Naylor, o ginecologista estará hoje à tarde e poderá vê-Ia às cinco e quinze, se a Sra. puder".

Sue: "Posso sim".

Dr. Chisholm: "Acho melhor entregar todo o caso a ele, e se a Sra. achar conveniente, ele poderá examiná-la de novo. Ficaria mais satisfeito assim. A Sra. terá mais tempo para pensar no caso e resolver... Bem... No caso de ele estar certo de que a Sra. está realmente grávida e sentir que deseja interromper a gravidez, e que é mesmo necessário fazê-lo, então estou certo de que fará tudo para a Sra".

Litchfield: "Quando os formulários poderão ser assinados?"

Dr. Chisholm: "Bem, penso que ele os assinará. Pode fazê-lo muito bem".

Litchfield: "Disseram-nos que deveria haver duas assinaturas".

Dr. Chisholm: "Sim, mas vocês não resolveram ainda, não é verdade?"

Litchfield, dirigindo-se a Sue: "Você já tinha decidido, não, meu bem?"

Sue: "Tinha sim. Falando com a conselheira, entendi que a maternidade seria muito difícil".

Dr. Chisholm: "Sim, por isso é que lamento não ter trocado umas idéias com ela".

Litchfield: "Bem, ela deixou claro que não era aconselhável".

Sue: "Não na minha situação. Penso que é a decisão mais sensata".

Litchfield, para Sue: "Penso que você ficaria muito feliz se pudesse resolver tudo o mais rápido possível, não é mesmo, querida? Há o risco da demora e a gente terá de vir muitas vezes ainda à cidade".

Dr. Chisholm: "Penso que devo receitar-lhe a pílula, para que você comece tomá-la no próprio dia da intervenção, isto é, se resolver fazê-la, e isto ganhará tempo...

E naturalmente vocês não devem ter relações durante um mês, depois da operação, e deverão ter algumas precauções...

A enfermeira lhes explicará tudo. Entretanto, escreverei duas palavras ao Dr. Naylor, e talvez lhe solicitarei a interrupção da gravidez, no caso de ser necessária uma segunda assinatura.

Bem, é isto que a Sra... a Sra. está mesmo decidida... é essencial!"

Sue: "Oh! sim. Já tinha pensado em tudo isso antes".

Dr. Chisholm: "A Sra. pensa que é realmente impossível continuar a gravidez?"

Sue: "Sim, acho impossível".

Dr. Chisholm: "Quais seriam as conseqüências de a Sra. continuar com a gravidez?"

Sue: "Em que sentido?"

Dr. Chisholm: "Por que a Sra. acha impossível continuar e considera essencial interromper a gravidez?"

Litchfield: "Bem, eu sou casado... Não sei se. . . "

Dr. Chisholm: "Entendo".

Sue: "Mas não é casado comigo".

Dr. Chisholm: "Bem, esta razão parece ser muito boa. Está bem. Querem ter a bondade de ir ter com a enfermeira agora... Devo ir para outra clínica..."

Na mesma tarde fomos ao Dr. Christopher Hardy Naylor, o ginecologista, que também tem consultório na Harley Street.

O Dr. Naylor, homem de feições graúdas, barba cerrada, e cabeça calva, brilhante, tinha sobre a sua escrivaninha a requisição de aborto assinada pelo Dr. Chisholm.

O Dr. Chisholm, embora demonstrando dúvidas se Sue estava grávida ou não, tinha assinado o formulário, autorizando o aborto! O Dr. Chisholm tinha começado afirmando que Sue estava grávida de "quatro, cinco ou seis semanas". Em seguida começou a duvidar, mostrou-se inseguro, mas ainda assim consentiu no aborto. Como é que se pode prescrever um aborto quando nem se está certo de a mulher estar grávida?

O Dr. Naylor, homem de meia idade, de fala mansa, disse: "Querem ter a bondade de sentar-se? Gostariam de interromper a gravidez, não é verdade? Certamente já debateram isto com o Dr. Chisholm e com a conselheira, não? Poderiam dizer-me qual é a conclusão final, quais são as razões do aborto?"

Sue: "Bem, eu já expliquei: não sou casada e... sei lá".

Dr. Naylor: "Tem intenção de casar-se?"

Sue: "Não. Ele é casado".

Litchfield : "Não é o momento oportuno, certo?"

Sue: "Não, o Sr. sabe..."

Dr. Naylor: "Sim, bem... Em suma a Sra. tem que fazer tudo por conta própria?"

Sue: "Exatamente".

Dr. Naylor: "E você a apóia nisto, não? Acha que é uma boa idéia?"

Litchfield: "Oh, sim. Dou-lhe todo o meu apoio, mas para mim é melhor, naturalmente".

Dr. Naylor: "Sim".

Litchfield: "E chegamos a esta conclusão. Discutimos tudo e esta é a nossa conclusão".

Dr. Naylor, dirigindo-se a Sue: "Bem, gostaria de examíná-la para determinar o tamanho do útero, e depois (dirigindo-se a Litchfield) o Sr. pode voltar aqui e discutiremos o assunto".

Litchfield saiu mais uma vez do consultório, enquanto Sue era examinada internamente, outra vez.

O Dr. Naylor comentou: "Acho que o Dr. Chisholm teve dificuldade em resolver. A Sra. mora com o seu amigo?

Sue: "Bem. Durante a semana sim".

Dr. Naylor : "Então farei na segunda-feira, está bem?"

Sue: "Sim, ótimo".

Dr. Naylor: "E nos fins de semana ele vai para casa?"

Sue: "Sim".

Dr. Naylor: "Muito bem. Então, acho que o melhor dia é a segunda-feira, porque quando você sair do hospital precisará de um apoio moral. E se ele estiver com você, na terça, quarta, quinta e sexta, será ótimo. Porque durante este tempo é que as pessoas sentem remorso. Este é o aspecto pior de todos".

Sue: "Realmente? As pessoas sentem remorsos?"

Dr. Naylor: "Pelo mesmo motivo por que uma mulher que tem um aborto espontâneo sente remorso".

Sue: "E estes remorsos causam muitos distúrbios emocionais?"

Dr. Naylor: "Sim. Têm necessidade de alguém para ajudar nos dias imediatamente posteriores ao aborto".

Sue: "Então seria melhor que não ficasse sozinha".

Dr. Naylor: "Sim".

Sue: "Com quantas semanas estou agora?"

Dr. Naylor: "Seis ou oito semanas".

Então, a gravidez-fantasma tinha-se tornado como que um acontecimento social. Litchfield foi chamado e o Dr. Naylor continuou: "Acho que isto é o melhor que se pode fazer. Preveni-a de que a maior dificuldade que terá de enfrentar é uma sensação que pode ser descrita somente como uma espécie de remorso, ou arrependimento, depois da operação. E como o Sr. só está com ela durante a semana é bom que a intervenção seja feita na segunda-feira. Ela passará a noite de segunda-feira no hospital e o Sr. poderá apanhá-la na terça-feira de manhã e passarão o resto da semana juntos, para que possa ajudá-la, neste período difícil".

Litchfield: "Por que acontece esta sensação de remorso?"

Dr. Naylor: "Por que acontece? Toda mulher que tem um aborto natural, ou interrompe a gravidez, passa por isso. E a sua intensidade e gravidade dependem dos motivos para interromper a gravidez. E acho que o Dr. Chisholm sentiu que havia uma certa hesitação e ambivalência na motivação de vocês, apesar de vocês me convencerem de que ambos estavam sabendo o que queriam".

Litchfield: "E não há problemas em fazer o aborto?"

Dr. Naylor: "Não".

Litchfield: "As razões são válidas?"

Dr. Naylor: "São".

Sue: "E será na próxima segunda-feira?"

Dr. Naylor: "A propósito, vai custar sessenta e uma libras. A Sra. vem ao meu hospital e eu farei a operação. Um anestesista assistente a anestesiará e a Sra. passará a noite no hospital".

Litchfield : "E quando é que devemos pagar?"

Dr. Naylor: "Quando ela entrar no hospital. A não ser que prefiram dar-me o cheque agora. Como for mais conveniente para vocês".

Sue: "Pagaremos em dinheiro".

Dr. Naylor: "É melhor, prefiro em dinheiro".

Sue: "Qual será o hospital?"

Dr. Naylor: "O Acton Hospital, de Gonnersbury Lane, na zona ocidental de Londres. Onde é que vocês moram?"

Esta foi a primeira vez que ele tocou em nossa vida particular. Estávamos dizendo-lhe estórias falsas, dando-lhe nomes falsos e endereços falsos. Entretanto, não havia nenhum interesse em verificar nossas informações.

Dr. Naylor: "Se a Sra. vier na segunda-feira, não coma nem beba nada a partir da meia-noite de domingo. Procure chegar entre nove e meia e dez da manhã".

Litchfield: "De quantos meses ela está grávida?"

Dr. Naylor: "De seis a oito semanas".

Litchfield: "Ela estava preocupada porque não sabíamos se tínhamos razão suficiente para fazer aborto".

Dr. Naylor: "Aqui está a explicação. Muito bem... Sim, eu entendo. Bem, vocês estão vendo, as razões dependem da maneira como se interpreta a lei. Acho que vocês têm razões mais que suficientes.

Se quiserem telefonar-me, eu estou sempre em Harley Street, todas as tardes, mas se quiserem falar sobre o que é necessário fazer para o aborto, ou outra coisa qualquer, podem falar com a minha secretária que está no Central Middlessex Hospital. (Entregou-me seu cartão pessoal). Esta é a carta que você deve levar quando der entrada no hospital. (Ele nos deu uma carta). Gostaria de revê-los aqui dentro de três semanas. Podemos marcar uma hora?"

Sue: "A que horas será feita a operação?"

Dr. Naylor: "As duas horas: a Sra. entra na sala de operação, aplicam-lhe uma injeção na veia e a Sra. adormece. E enquanto estiver dormindo eu dilato com muita delicadeza o colo do útero, e, usando um processo de sucção, o melhor e o mais moderno, removo o tecido embrionário e o útero volta ao estado normal. A senhora volta para a enfermaria, acorda e pode tomar chá.

Deve ficar internada uma noite, pois pode sobrevir uma hemorragia ou infecção. Porém não prevejo nenhuma complicação, nenhum problema, porque a sua gravidez está no começo e tudo deverá correr da melhor maneira".

A carta que o Dr. Naylor nos deu estava endereçada a: "Enfermeira-chefe, Lady Skinner Ward, Acton Hospital, Gunnersbury. Lane, London, W.3". Guardamos a carta e todos os documentos, inclusive o formulário de aborto totalmente preenchido.

O Dr. Naylor falou do "remorso", do "pesar" e dos "perigos emocionais" que se seguem ao aborto. Disse que Sue não deveria ficar só depois de receber alta do hospital.

Não se pode ter remorso sem ter consciência de ter feito alguma coisa errada. O remorso que se segue ao aborto só pode significar uma coisa: a mulher estar certa de que perdeu um filho que estava vivo, não algo inanimado e morto, e se sente enlutada; é um luto que ela se causou a si mesma.

Em público, os adeptos do aborto não falam claramente de coisas como "remorso", "pesar" e "traumas emocionais". Afirmam e defendem que a mulher deve abortar porque não tem ninguém que a apóie. Mas quando chega o momento da operação, dizem-lhe que é perigoso se não tem alguém para estar com ela todo o tempo, depois da operação em que abortou, por causa do "remorso", "pesar" e "emoção".

A razão de ela estar ali é porque não tem ninguém a quem recorrer. Assim, segundo as próprias palavras do ginecologista, e pelas próprias circunstâncias que determinam o aborto, ela é posta em grave perigo mental e físico pelo fato de abortar.

Por que silenciar tanto sobre este aspecto do aborto?

Todas as agências de consulta de gravidez nos afirmaram unanimemente que o aborto era uma coisa sem conseqüências. A propaganda comum é a seguinte: "Não é nem mesmo uma operação"; "Você pode voltar para o trabalho no dia seguinte". Isso foi o que disseram a Sue. Mas com o Dr. Naylor começamos a descobrir a terrível verdade sobre o modo como as mulheres são muitas vezes enganadas e arrastadas a consentirem que certos "tubarões" se tornem ainda mais ricos.

As mulheres grávidas, amedrontadas. são aliciadas e envolvidas numa rede cheia de perigos mentais e físicos de toda a espécie.


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