"É SEMPRE UMA ATIVIDADE FEBRIL... NÃO PARAMOS NUNCA"

A "Avenue Clinic", situada no número 14 da New Church Road, Hove, no Sussex, não tem nada que ver com uma instituição de caridade. Não resta a menor dúvida de que não é. Figura nesta seção porque esta clínica nos serviu como o primeiro degrau para chegarmos à clínica Wiston de Brighton, que faz parte do grupo "British Pregnancy Advisory Service" (Serviço Britânico de Consultoria de Gravidez), cujo quartel-general está em Birmingham.

A "Avenue Clinic" de Hove é de propriedade do Sr. Immanuel Bierer, pessoa muito conhecida nos círculos internacionais do aborto. É também proprietário de uma clínica particular de aborto com o mesmo nome no norte de Londres, e tem escritórios em Harley Street, ao lado da clínica do Dr. Shoham.

Quando chegamos à "Avenue Clinic" de Hove, Sue disse que acreditava estar grávida e queria saber se eles faziam aborto.

Disseram-lhe que esperasse um pouco pela enfermeira-chefe. Enquanto estávamos esperando no pequeno escritório, Litchfield disse: "Vocês trabalham muito aqui, não?"

A mulher respondeu: "É sempre uma atividade febril".

Litchfield continuou: "Trabalham também à noite?"

"Sim, acredito que hoje eles vão estar na sala de operação até altas horas".

Sue: "Vocês fazem muitos abortos, não é verdade?"

A mulher: "Na maioria dos casos é cirurgia geral. Fazemos alguns diariamente. Bem, se for o caso... temos dois ou três médicos que trabalham aqui. A enfermeira-chefe vai aconselhar a que consultem um deles".

Enquanto esperávamos a Srta. Bell, a enfermeira-chefe, admiramos um quadro de Jesus Cristo carregando a cruz.

A Srta. Bell entrou com vivacidade e foi logo perguntando: "Em que posso servir?" Estava vestida muito elegantemente e bem maquiada. A Srta. Bell, nos seus trinta anos; sentou-se a uma mesa que estava abaixo de um quadro que indicava o horário das atividades na sala de operação.

Sue disse: "Acho que estou grávida e quero tentar interromper a gravidez".

A Srta. Bell perguntou: "A Sra. é de Brighton?"

Sue respondeu: "Sim".

Srta. Bell: "Acho que devo sugerir-lhe procurar o Dr. Measday. Vou telefonar a ele e você poderá ir falar com ele".

Sue: "É médico?"

Srta. Bell: "É ginecologista. Trabalha conosco. Mas, como lhe disse, não temos agora nenhum em casa. Já esteve alguma vez na clínica Wiston?"

Sue: "Não".

Srta. Bell: "Bem, este é outro lugar. Naturalmente a Sra. tem de ir lá, ser examinada e fazer tudo que é necessário, "mas provavelmente eles só o farão dentro de alguns dias ou no máximo dentro de uma semana. Assim a Sra. deve escolher, se fazer em particular ou fazer na clínica Wiston".

Sue: "A Wiston não é uma clínica particular?"

Srta. Bell: "Não. Naturalmente as taxas variam consideravelmente".

Litchfield: "Acho que é melhor fazermos isto em particular".

Srta. Bell: "Bem. Depende do Sr. Acho que a diferença não é muito grande. Fazemos muitas interrupções de gravidez aqui, mas não fazemos somente interrupções. Na Wiston... só fazem isto. Mas, vocês é que devem decidir. De qualquer modo telefonarei ao Dr. Measday para ver se consigo marcar uma hora para a Sra.".

Sue: "Sim. A Sra. tem uma idéia de quanto custará?"

Srta. Bell: "Depende, naturalmente, de quanto adiantada esteja a gravidez. Mas será entre cem e cento e cinco libras, tudo incluído".

Litchfield: "Está bem. Demorará muito para arranjar tudo?"

Srta. Bell: "Não, não. No momento, a única dificuldade é encontrar leitos disponíveis..." Ela estudou uma tabela mural. "Bem... provavelmente será melhor na próxima segunda-feira ou na terça, depende da disponibilidade dos leitos", acrescentou.

Litchfield: "Quanto tempo ela deve ficar internada?"

Srta. Bell: "Só uma noite. Basta que chegue aqui duas ou três horas antes, porque tem de tirar sangue. Em seguida se faz tudo. É questão de... dez, dez ou quinze minutos, aproximadamente. Mas a Sra. tem de ficar -durante a noite. uma lei".

Litchfield: "Não haverá nenhum problema . para conseguir a licença?"

Srta. Bell: "Não, em absoluto. Então querem que eu telefone para o Dr. Measday?" Ela nos estava garantindo um aborto, sem termos feito uma única pergunta sobre as circunstâncias e as razões que nos levaram a procurar interromper a gravidez.

Dissemos-lhe que gostaríamos que ela entrasse em contacto com o Dr. Measday, para tratar do nos s caso. Litchfield então fez a pergunta importantíssima: "Nós temos de dar razões por que queremos interromper a gravidez?"

"Não", disse a Srta. Bell. "As razões são de vocês, razões inteiramente particulares. Ninguém pode interferir. Vocês é que devem resolver dizer-lhes se o querem. Depende somente de vocês".

Esta foi provavelmente a mentira mais vergonhosa e escandalosa de toda a nossa pesquisa. Aqui uma enfermeira-chefe de uma clínica nos estava ajudando a violar a lei. É dever do governo saber se os abortos são feitos somente em virtude de razões estipuladas pela Lei do Aborto. Não é assunto particular. O governo deve ser informado da razão de se fazer cada aborto. A lei obriga a mulher a justificar a sua solicitação de um aborto legal. Ela não tem direito, contrariamente ao que afirmou falsa e deslealmente a Srta. Bell, de guardar as suas razões secretas. Cada caso, por lei, deve ser examinado e investigado por dois médicos, ambos agindo "de boa fé".

Litchfield: "Gostaria de saber se nós tínhamos de apresentar razões válidas".

Srta. Bell: "Não, não". Isto foi uma constante de todo o setor privado do campo de aborto que encontramos. Estávamos pagando para burlar a lei. As pessoas que, operam neste campo tornaram-se, com o tempo, insensíveis em virtude do número incalculável de abortos. Não é apenas uma questão de "fechar os olhos". Os abortos ilegais que são feitos sem justa causa, se tornaram tão comuns que muitíssimas pessoas já o fazem sem o menor escrúpulo.

Elas acreditam realmente que a lei consinta o aborto sob encomenda. Esta, porém, não é a lei do país. a lei da selva do aborto. O setor privado opera partindo do pressuposto de que ter muito dinheiro éter muita razão válida. É a moral deles. É a lei deles. Não é a lei do Parlamento. Estes piratas se camuflam, de acordo com o seu local de trabalho. Na Harley Street, a sofisticação causa nojo. Quando se chega a Hove, vê-se que não há nenhuma preocupação, nem mesmo com a aparência. Não se preocupam de tapar as rachaduras das paredes, de melhorar a fachada.

Sue: "Pensava que tinha de assinar algum papel".

Srta. Bell: "Tudo o que a Sra. tem que assinar é um documento afirmando que está de acordo. Há também formulários que devem ser preenchidos por nós e pelo Dr. Measday".

Litchfield: "Poderemos ficar descansados a respeito disso?"

Srta. Bell: "Totalmente. Eles dirão tudo a vocês. Tudo o que temos que fazer, nós e vocês, é assinar o papel de consentimento. Este documento refere-se à anestesia".

Sue: "Assina-se o formulário normal de operação? Aquele em que se declara qual é o parente mais próximo?"

Srta. Bell, rindo: "Mais ou menos como estas formalidades". Em seguida telefonou ao Dr. Measday. Perguntou ao telefone: "O Dr. Measday está?... Hum... Sim, é a Srta. Bell da Avenue Clinic. Está aqui uma Sra. que deseja interromper a gravidez. Gostaria de saber se ela pode falar agora com o Dr. Measday? Você pode marcar uma hora para ela? Oh, sim, excelente! Três e quarenta e cinco. Como? Não, não sou, sou eu a enfermeira-chefe da Avenue Clinic. Oh... Hum... Bem, que número devo ligar? 109. Bem, ótimo. Obrigada, muito obrigada, até logo".

Voltando-se a nós, a Srta. Bell disse: "Está tudo muito bem".

Litchfield: "A quem devemos pagar?"

Srta. Bell: "Normalmente paga-se aqui".

Litchfield: "O pagamento deve ser feito em dinheiro?"

Srta. Bell: "Sim".

Litchfield: "Gostaria de saber se a gravidez de Sue está adiantada ou não".

Srta. Bell: "Bem, isto quem deve dizer é o Dr. Measday. Não estou bem certa até quantas semanas ele opera. Mas creio que até quatorze semanas. Porém, não posso falar em nome do cirurgião que vai fazer a intervenção".

Sue: "Será o Dr. Measday?"

Srta. Bell: "Sim. Ele espera por vocês amanhã". Ela nos deu um papel com o endereço, a data e a hora da consulta.

Sue: "OK! Muito obrigada".

Srta. Bell: "Acho que não poderemos atendê-la até a próxima semana. De qualquer modo ele nos dirá. Obrigada. Tchau".

Fez-nos bem sair para o ar puro novamente...

Não fomos, naturalmente, fazer a consulta com o Dr. Measday. Mas resolvemos ver se era fácil arranjar um aborto com ele diretamente, sem ser por intermédio da Srta. Bell. Soubemos que o Dr. Measday estava operando todas as tardes na Wiston's Clinic, de Hove, que, como já dissemos, é de propriedade da "British Pregnancy Advisory Service". Litchfield foi à Wiston's Clinic e pediu para falar com o Dr. Measday. Litchfield disse sem preâmbulo ao Dr. Measday: "Quero marcar um aborto para uma amiga minha. O Sr. pode me ajudar?"

"Naturalmente", disse ele. "Venha com ela à minha clínica amanhã à tarde. Pode ser às três e meia?"

Litchfield então explicou que queria que o aborto fosse feito na Avenue Clinic e não na Wiston's Clinic.

Dr. Measday: "Não haverá problema. Pode ser". Que situação esquisita e irregular: Litchfield acabava de tomar contato com uma clínica "assistencial" e estava agora falando com um ginecologista, solicitando -dele um aborto numa clínica rival!

O nome que Litchfield deu na ocasião foi Denton. Disse que o sobrenome de Sue era Oliver.

Procurando obter informações mais pormenorizadas, Litchfield telefonou à clínica do Dr. Measday no dia seguinte. Dr. Measday estava ocupado com uma paciente. mas a conversa com sua secretária foi muito proveitosa. Vejamo-la:

Litchfield: "O Dr. Measday está?"

Secretária: "Está. Um momentinho, por favor. Quem fala aqui é sua secretária".

Litchfield: "Aqui é Denton".

Secretária: "O Sr. deveria trazer aqui a Sra. Oliver, não é verdade?"

Litchfield: "Sim. Tenho hora marcada".

Secretária: "Três e meia, não?"

Litchfield: "Encontrei-me com o Dr. Measday na Wiston's Clinic e conversei com ele".

Secretária: "Ele já me falou".

Litchfield: "Lamento, mas marquei a hora sem estar certo de que a Srta. Oliver poderia ir. Mas acontece que ela não pode, porque não está na cidade hoje".

Não era o que estava acontecendo. Sue estava gravando toda a conversa, como continuou a fazer nos meus diálogos com o Dr. Measday.

Litchfield: "Poderia avisar o Dr. Measday?"

Secretária: "Sim. Posso marcar uma hora para ela na próxima semana?"

Litchfield: "Será ótimo".

Secretária: "Temos livres a segunda pela manhã ou a quinta à tarde..."

Litchfield: "Segunda pela manhã é melhor".

Secretária: "Segunda pela manhã. Ela pode estar aqui às nove e quinze?"

Litchfield: "Sim, pode".

Secretária: "Só que... bem, porque, o Sr. sabe, preparar tudo... hum... vou marcar para ela às nove e quinze de segunda-feira, Sr. Denton. O Sr. sabe aonde deve ir... Número 109, The Drive, em Hove".

Litchfield: "A Sra. não acha que eu deveria falar primeiro com o Dr. Measday sobre o caso?"

Secretária: "Ele está examinando uma paciente, no momento".

Litchfield: "O caso é que procurei o Dr. Measday porque ela queria fazer a operação na Avenue Clinic".

Secretária: "Estou ciente. Conheço o caso, Sr. Denton".

Litchfield: "Ah, conhece? A razão é porque nós conhecemos o Dr. Bierer e aquela é a sua clínica, não é?"

Secretária: "Realmente. A Avenue Clinic, de New Church Road, em Hove".

Litchfield: "O Dr. Measday precisa saber o estado da gravidez?"

Secretária: "Não é necessário saber antes que a Sra. Oliver chegue aqui. Esperemos que não esteja muito adiantada. Isto é a coisa mais importante, naturalmente. Quanto mais depressa ela vier, tanto melhor".

Litchfield: "Sim. Há algum problema sobre o que devemos fazer? Acredito que dois médicos têm que assinar, é verdade?"

Secretária: "Sim. Bem. O Dr. Measday pode sempre arranjar um colega para assinar a segunda parte do documento. Arranja-se tudo. Fique tranqüilo".

Litchfield: "Estava querendo saber se não seria melhor que a Srta. Oliver arranjasse outro médico para assinar tudo antes, para ganhar tempo".

Secretária: "Se ela quiser, pode fazê-lo. Mas há sempre outros médicos que trabalham aqui e são colegas e amigos do Dr. Measday. Porque, naturalmente, não é somente ele que trata do caso. Há também o patologista e o anestesista. Os médicos são muitos. As mulheres recebem todos os cuidados depois da intervenção".

Litchfield : "Ela está preocupada com as razões do aborto. Teme que não tenha razões válidas. A gente precisa ter razões fortes, não é mesmo?"

Secretária: "Bem. Geralmente. Mas para começar, basta que ela não seja casada... É, casada? Acredito que não haverá nenhum problema. Mas naturalmente este assunto deve ser resolvido com a conselheira".

Litchfield: "Era exatamente por isso que eu gostaria de falar com o doutor".

Secretária: "Bem. Como estava dizendo, tudo sairá bem se ela vier na segunda-feira de manhã. Acho que ela quer arranjar tudo imediatamente, não é verdade? Poderia até ser operada na tarde da própria segunda-feira".

Litchfield: "ótimo. Devo dizer-lhe que se prepare e venha pronta para a operação?"

Secretária: "Isso mesmo".

Litchfield: "Deve trazer as suas coisas para passar a noite?"

Secretária: "Sim. Porque geralmente recebem alta depois de vinte e quatro horas".

Litchfield: "Paga-se em dinheiro ou pode-se pagar em cheque?"

Secretária: "Em dinheiro, acredito".

Litchfield : "Quanto custará?"

Secretária: "Cem libras, tudo incluído. A clínica, o Dr. Measday, o anestesista e o... Parece muito, mas quando cada um recebe a sua parte, já viu..."

Litchfield: "Vai ser tudo dividido?"

Secretária: "Vai".

Litchfield: "Mas a Sra. não acha que ela tem razão de se preocupar pensando que não vão lhe conceder o aborto?"

Secretária: "Naturalmente não posso dizer-lhe com absoluta certeza que ela vai conseguir o aborto, mas com noventa e nove por cento de probabilidade posso garantir que sim. Não posso comprometer-me, é lógico afirmando que ela não vai encontrar nenhum problema, mas pode crer na minha palavra: ela não tem motivo para se preocupar".

Litchfield: "Não há nada que ela deva dizer em particular?"

Secretária: "Não. Acho que não é ela a primeira jovem que se encontra nestas enrascadas (deu uma risada). Diga-lhe que não se preocupe demasiado. Teremos muito cuidado com ela, na operação e depois".

Litchfield: "E o fato de ela não ser casada bastará?"

Secretária: "Bem. Pelo menos é um bom começo (riu novamente). Diga-lhe que não se preocupe. Teremos o prazer de vê-Ia na próxima segunda-feira. Até lá. Obrigado por ter telefonado".

Na mesma tarde telefonamos para o Dr. Measday, em sua residência. Ele é outro homem de meia-idade, de feições angulares, e veste-se como um vendedor domiciliar. Fala macio e parece que não gosta de falar muito, porque fala medindo as palavras.

Sue: "Boa tarde. O Sr. não me conhece. O meu nome é Srta. Oliver. O Sr. Denton já lhe falou a meu respeito".

"Ah, sim!" exclamou o Dr. Measday.

"Desculpe incomoda-lo em sua residência, mas gostaria de saber se está tudo arranjado".

Dr. Measday: "Oh, sim! Deverá correr tudo muito bem. Parece que entendi que a Sra. tem hora marcada para segunda-feira, não é verdade?"

Sue: "Certo. Sinto não poder ir hoje, mas eu nção soube a tempo da combinação feita".

Dr. Measday: "Não há problema".

Sue: "Então está certo que eu devo levar tudo que for necessário para passar a noite de segunda-feira na clínica?"

Dr. Measday: "Sim. Acredito que a minha secretária tenha telefonado para a Avenue Clinic e creio também que a senhora já é conhecida lá, ou comunicou-se com eles pessoalmente?"

Sue: "Bem, o Sr. Denton conhece o Dr. Bierer, o proprietário".

Dr. Measday: "Ah, sim, naturalmente! Para mim está tudo bem. Posso organizar tudo".

Sue não foi nem sequer examinada por um médico, quanto mais por dois, e o Dr. Measday, o ginecologista, lhe estava prometendo arranjar tudo para que ela abortasse. As razões não se discutiam.

Sue: "E o Sr. me examinará?"

Dr. Measday: "Sim. Esqueci-me a que horas a Sra. virá".

Sue: "Não sei realmente, mas Denton sabe".

Dr. Measday: "Não posso lembrar-me, mas já vi na agenda. Acho que é por volta de nove e meia. E a Sra. irá diretamente do meu consultório para a clínica e se internará".

Sue: "E a operação será feita neste mesmo dia, mais tarde?"

Dr. Measday: "Sim, à tardinha".

Sue: "E a respeito da assinatura dos papéis?"

Dr. Measday: "Bem, eu assinarei um e quanto à outra assinatura arranjarei... com um dos meus colegas".

Sue: "Estava muito preocupada porque não sabia quais as razões válidas; ou, fazendo a coisa em particular, será que isto tem importância?"

O Dr. Me asday, limpando a garganta: "É muito difícil, naturalmente. Não podemos prometer oficialmente nada antes de vê-Ia. Mas . . . de um modo geral.. . interpreta-se a lei com tanta liberdade hoje em dia que realmente não haverá dificuldade para se arranjar razões que o justifiquem".

Sue: "Certo. E se eu disser que não sou casada?"

Dr. Measday: "Muitos aceitariam este fato como uma boa razão da sua parte, sobretudo ;estando você ainda no começo".

Sue: "Está bem. Muito obrigada. Uma outra coisa: E quanto ao dinheiro? Querem pagamento em dinheiro ou aceitam cheque?"

Dr. Measday: "Bem, (limpando novamente a garganta) é mais fácil trazer dinheiro, pelo fato de se ter de pagar a quatro pessoas. Mas, se preferir, pode pagar com quatro cheques".

Sue: "Em nome de quem devo fazer os cheques?"

Dr. Measday: "Depende de quem vai fazer o seu exame de sangue. Creio que conheço o anestesista, mas até organizar tudo... Poderá assinar na hora. Ou deixar para o fim os nomes".

Sue: "E o seu cheque e o do outro médico?"

Dr. Measday: "Sim. E também o da Avenue Clinic".

Sue: "Então são dois cheques para os médicos, um para a Avenue Clinic e outro para o anestesista?"

Dr. Measday: "Certo, quatro cheques ao todo".

Sue: "Acho melhor trazer dinheiro".

Dr. Measday: "Depende da Sra. Faça o que achar mais conveniente'..

Sue: "São cem libras, não?"

Dr. Measday: "Sim, cem libras. Espero vê-Ia na segunda-feira. Tchau".

É quase inacreditável. Entramos casualmente numa clínica de aborto, sem sermos anunciados, como duas pessoas completamente desconhecidas, falamos com um ginecologista e negociamos com ele para realizar um aborto para nós em outra clínica. Em todos os setores da medicina os pacientes devem procurar um especialista indicado pelos seus próprios médicos. Não se pode encontrar com um médico por acaso na calçada ou simplesmente entrar por uma porta desconhecida e dizer: "Olá, meu chapa! Você pode fazer um trabalhinho pra mim numa garota?" Isto foi o que nós fizemos e pareceu a coisa mais comum do mundo. O Dr. Measday mostrava-se feliz e ansioso de concluir o negócio.

Wiston, a clinica do BPAS de Hove, tornou-se um centro internacional de aborto. Mulheres de todo o mundo vêm à clínica Wiston em "viagens especiais de aborto". Toda semana as empresas de turismo, que oferecem viagens a preços reduzidos, transportam de Paris e de outras cidades européias - muitas da Alemanha - para Brighton, Inglaterra, mulheres grávidas que vão à procura de aborto. Todas levam consigo um mapa da área de Brighton com um círculo feito à tinta localizando a clínica Wiston.

Antes de deixarem o seu país, todas as mulheres vão ao banco e tiram o dinheiro necessário para a operação. Muitas delas vão com seus maridos ou namorados, combinando a viagem de aborto com um passeio de fim de semana, ou uma miniexcursão na Inglaterra. De fato, havia na clínica Wiston uma atmosfera de alegria e de festa.

Muitas pensões situadas nas vizinhanças da clínica Wiston estão ganhando rios de dinheiro. Enquanto a mulher ou a namorada está fazendo o aborto e passando a noite na clínica, os maridos e os namorados se refugiam nas espeluncas de Brighton.

"A temporada de férias vai de julho a setembro", disse uma dona de pensão. "Mas, para o aborto não há temporada. É o ano todo. Todos os dias, durante o ano, são dias de férias para nós. O dinheiro entra todos os dias. Não nos preocupamos mais com os que estão em férias. Tratamos quase só com estrangeiros. São ingênuos, também. Podemos cobrar deles quanto quisermos. E eles pagam. Dou graças a Deus pela Lei do Aborto. Não sei como faríamos sem esta lei. Muitas pessoas, nas férias, vão para o estrangeiro. Não temos quase mais oportunidade de ganhar dinheiro durante a temporada de férias".

Desde que o BPAS adquiriu a clínica Wiston, uma clínica antiga e bem estabelecida, acrescentou outras alas além de modernizá-la. O hall de recepção assemelha-se a uma sala de espera de um aeroporto internacional. Mulheres vão de mesa em mesa. Avisos ">r Proibido Fumar", em várias línguas. Conversas e exclamações em vários idiomas ecoam no luxuoso recinto.

Numa sala à parte, bem mobiliada, com aparelho. de televisão, homens sentados com maletas e sacolas. As mulheres que trabalham na recepção falam várias línguas, sobretudo francês e alemão.

Do lado de fora Litchfield conversou com muitos franceses que tinham trazido suas mulheres à clínica Wiston, para fazer aborto. Um deles disse: "Vamos agora dar uma volta pela cidade. Contratamos algumas moças para a noite e vamos levá-las a jantar. Há uma semana que esperávamos ansiosamente por esta viagem. É a terceira vez que visito a Inglaterra, mas é o primeiro aborto de minha mulher. Talvez voltemos - se conseguir engravidá-la novamente!"

Outro disse: "Eu não concordo com o que minha mulher está fazendo, mas permiti que ela decidisse. Pensava que na clínica eles a fariam pensar mais; entretanto, trataram a coisa como uma brincadeira. Da minha parte, acho uma coisa revoltante. Estou com vontade de voltar e deixar minha mulher se arranjar sozinha, se isto é o que ela quer. Este lugar é terrível. Perderam todo o senso de decência e respeito. Até a dona da pensão disse: 'Esta noite lhe dou a suíte do aborto'. Acrescentou que toda noite ela aloja quatro homens em cada quarto. A casa está superlotada.

A dona da pensão brincou ainda dizendo que dá aos casais a suíte nupcial e ao mesmo tempo reserva-lhes a suíte do aborto. É muito engraçado, não é?"

Respondi que realmente não era nada engraçado. Quando submetemos a clínica Wiston a um exame mais rigoroso, dirigimo-nos à recepcionista. Ela foi logo perguntando-nos: "Em que posso ajudá-los?"

Sue respondeu: "Tenho hora marcada para hoje às onze horas. Já marcamos com antecedência. Gostaria de saber com quem será a consulta".

Recepcionista: "A Sra. vai consultar dois médicos, depois falará com a conselheira e lhe dirão quando deverá ser internada".

Sue não tinha sido ainda declarada grávida por nenhum médico da clínica. Ela não tinha feito nenhum exame. Não havia nenhum motivo para um possível aborto, não se tinha discutido nenhuma razão para abortar, e já se falava "quando deverá ser internada"

Durante todas as nossas entrevistas nesta indústria imunda, descobrimos que julgam antecipadamente os casos, simplesmente porque no setor privado ninguém se preocupa com as razões reais e válidas.

Litchfield foi convidado a sentar-se na sala de televisão enquanto Sue se entendia com uma funcionária. Seguiu-se o seguinte diálogo:

Funcionária: "O seu teste de gravidez foi confirmado por exame de urina feito aqui?"

Sue: "Sim. Trouxe uma amostra na quarta-feira passada".

Isto era verdade e o resultado tinha sido... positivo!

Funcionária: "Senhora ou senhorita?"

Sue: "Senhora".

Funcionária: "Qual o seu endereço para correspondência?"

Sue deu um endereço falso, um endereço de Brighton, que poderia ser facilmente verificado para se ter a certeza se era verdadeiro ou falso.

Funcionária: "Já consultou o seu médico?"

Sue: "Não".

Funcionária: "É melhor deixá-lo fora disto, não é verdade? Já fez exame de secreção antes?"

Sue: "Sim".

Funcionária: "Pode dizer-me a data do nascimento? Trouxe consigo a sua ficha médica?"

Sue: "16 de maio de 1946. Não. Esqueci a ficha médica". Funcionária: "Quando você vier para ser internada para fazer a operação, é melhor trazê-la. Se não a tem, telefone para a secretária do seu médico e peça-a".

Sue: "Para que serve essa ficha?"

Funcionária: "Acho que é talvez porque devemos apresentar ao Ministério todos os abortos que fazemos. É uma forma de controle... dos abortos que dizemos que realizamos. É algo oficial, portanto. Está morando com o seu marido atualmente?"

Sue: "Estou".

Funcionária: "Qual é a idade dele?

Sue: "Trinta anos".

Funcionária: "São dez libras que deverão ser pagas agora".

Sue; entregando-lhe as dez libras: "Quanto custa o aborto?"

Funcionária: "Sessenta e uma libras. Dez agora e cinqüenta e uma quando vier para a operação".

Sue: "Entendo. As dez libras ião um adiantamento".

Funcionária: "Isso mesmo".

Sue: "E quando poderei fazer a intervenção?"

Funcionária: "Com certeza, dentro de dez dias".

Sue: "Devo passar a noite na clínica?"

Funcionária: "Sim. Deve passar vinte e quatro horas na clínica. Tudo lhe será explicado hoje à tarde".

Sue: "E quanto às razões?"

Funcionária: "Razões? Bem, a assistente social com quem a Sra. falará antes lhe perguntará por que deseja interromper a gravidez, e em seguida os médicos estudarão os aspectos clínicos. No fundo é uma decisão dos médicos. Mas, se você está mesmo certa do que quer... Talvez já tem filhos, não?"

Sue: "Não tenho nenhum filho".

Funcionária: "E não quer ainda filhos? Então diga-lhes isso e eles a ajudarão".

Depois desta entrevista inicial Sue teve de esperar noventa minutos até ser enviada à antecâmara da assistente social, onde pôde observar uma funcionária de uns vinte anos, que preenchia rapidamente e selava os formulários oficiais de aborto, de cor verde, com os nomes dos médicos, antes que as pacientes tivessem sido examinadas pela junta médica.

Para entabular conversa, Sue disse à moça: "Parece que você trabalha demais com papéis, não é mesmo? Você não se cansa? Não é um trabalho aborrecido?"

A moça respondeu: "Não. Acho que agora, com a prática que tenho, posso fazer isso até dormindo. Posso preencher o formulário até sem olhar".

A moça referia-se ao carimbo oficial dos médicos no formulário de aborto, os quais, por lei, só deveriam encontrar-se ali depois do exame e quando fosse oficialmente decidido que existem realmente razões válidas para o aborto.

Sue perguntou-lhe: "Já preencheu o meu?"

A moça: "Sim".

Sue: "Como é que você sabe o meu nome?"

A moça: "Deduzi, porque você é a única inglesa".

Sue descobriu então o formulário de aborto com o seu nome. Neste formulário estavam carimbados os nomes e endereços de dois médicos, antes de eles a terem examinado. A moça: "Estes são os dois médicos que você vai consultar esta tarde".

A moça estava cercada na sua mesa por sete grandes arquivos de cor marrom, que continham os nomes de mulheres que já tinham se submetido a aborto. Na sala contígua encontravam-se mais quatorze fichários completamente cheios.

Na frente de Sue, na fila para falar com as conselheiras, havia diversas nacionalidades: duas moças francesas, uma alemã e uma chinesa, que não sabia dizer uma palavra em inglês. Surgiu uma discussão entre as duas conselheiras, porque nenhuma das duas queria atender a chinesa porque não podia comunicar-se com ela. Uma das funcionárias sugeriu: "Deixemos de protocolos e encaminhemos a mulher para fazer o aborto. Ela veio aqui para isto e não para discutir".

Chegou a vez de Sue falar com a conselheira: "Aqui tem você o seu recibo das dez libras. Guarde-o bem".

Sue: "Creio que devo pagar ainda cinqüenta e uma, não é mesmo?"

Conselheira: "Esta importância será paga quando marcar o dia da operação. Fazemos em duas vezes porque você pode resolver não fazer o aborto". Em seguida consultou um questionário de duas páginas e sorriu: "Você parece que está resolvida, não é mesmo? Se tem alguma preo- cupação, alguma dúvida, ou qualquer coisa que deseja saber, pode perguntar".

Sue: "O que vai acontecer hoje à tarde?"

Conselheira: "Bem, o que vai acontecer é isto. Sou conselheira e estou aqui para tranqüilizá-la. Podemos ajudá-la a superar qualquer preocupação, qualquer problema. Você vai consultar dois médicos. Um deles vai fazer-lhe um exame interno e dirigir-lhe algumas perguntas clínicas e tirar-lhe uma gota de sangue. Temos o nosso próprio banco de sangue. O seu será identificado, para o caso de se precisar fazer alguma operação. Aqui não fazemos aborto a pedido, mas os médicos são muito compreensivos. Somente se você estiver muito adiantada, ou se apresentar uma razão muito frívola, como por exemplo, porque quer ir a férias, ou para não ser incomodada, ou coisas semelhantes...

Os dois formulários são muito confidenciais. Eles vão para as fichas médicas que são mantídas somente aqui. Há ainda muitas outras perguntás, mas são todas de caráter médico. Não bancamos os moralistas. Não é da nossa competência. Não é o nosso ofício.

Perguntas somente de caráter médico. O médico assinala o que lhe interessa nestes formulários, e depois faz suas perguntas próprias e tudo será enviado depois a um computador que temos aqui. Assim, se você voltar aqui, o que é improvável, já temos os seus dados. Antes de tudo, para quando marcou a consulta? Para hoje? Quanto tempo esperou?"

Sue: "Três dias".

Conselheira: "Puxa! Somos muito eficientes. Consultou o seu médico?

Sue: "Não".

Conselheira: "E não deseja consultar?"

Sue: "Não".

Conselheira: "Então está bem. Só depois de você ter sido op... dentro de seis semanas, você deverá voltar aqui para um exame geral. Então não precisará mais esperar, porque não deverá mais falar conosco. Você simplesmente entra e vai falar com o médico".

Sue: "Sim. Parece que há muito movimento aqui hoje".

Conselheira: "Nem tanto! Ontem de manhã, até estas horas, tivemos dezenove casos. Fazemos trinta abortos por dia, nos sete dias da semana. E há sempre dois conselheiros trabalhando. Aqui está a dificuldade. Por isso é que procuramos sempre saber quanto tempo a mulher ficou esperando. Com efeito, achamos que uma semana é um tempo demasiadamente longo... A propósito, este filho é por acaso do seu marido?"

Sue: "Sim. Diga-me: por que devo consultar dois médicos?"

Conselheira: "Porque é de lei que o formulário do aborto deve ter a assinatura de dois médicos. Veja: se a Sra. for consultar o seu médico e lhe explicar tudo e se ele for compreensivo, ele também poderá assinar o formulário de aborto. Assinará a primeira parte do formulário para você e depois você será examinada por outro médico aqui. Por lei os médicos devem ser dois. Mas você não será examinada duas vezes. O segundo médico limita-se a confirmar se você está realmente resolvida a fazer o aborto.

Sobretudo porque temos casos de mulheres casadas e casos de mocinhas, e não queremos que nenhuma mulher, mesmo com dezesseis anos de idade, seja obrigada a fazer isto contra a sua vontade. E este segundo médico é realmente uma garantia extra, entende?"

Sue: "Será um destes médicos que vai fazer a intervenção?"

Conselheira: "Não. Um ginecologista é que irá fazer a operação. Esses médicos são apenas de consulta. São todos médicos locais...

Talvez a minha pergunta agora lhe pareça um pouco cretina, mas em que religião você nasceu? Você ainda a pratica?"

Sue: "Pertenço à Igreja Anglicana".

Conselheira: "Fizemos a pergunta em caso de você ser católica. Temos muitas católicas que vêm aqui e algumas delas têm muitos escrúpulos religiosos. Há um sacerdote aqui. Elas podem falar com ele. Mas isso não vai causar-lhe perturbações?"

Sue: "Não. E o sacerdote explica às moças as razões válidas para se fazer aborto?"

Conselheira: "Isto mesmo. No caso de as mulheres se sentirem culpadas e traumatizadas, naturalmente. A Sra. teve educação sexual na escola? Não lhe contaram estórias de cegonhas, abelhas e flores?"

Sue: "Não".

Conselheira: "Bem, isto é realmente novidade, não acha? Você fez o exame de urina aqui, não fez? Então nós já sabemos tudo muito bem. O exame foi muito bem feito. Aqui não temos problemas, mas as mulheres estrangeiras às vezes fazem testes que não são muito seguros. Chegam com resultados negativos que são positivos e com resultados positivos que são negativos. A Sra. tem filhos?"

Sue: "Não, não tenho filhos".

Conselheira: "Nunca teve um aborto espontâneo ou um aborto provocado?"

Sue: "Não. É a primeira vez que estou grávida".

Conselheira: "Deseja filhos ou não?"'

Sue: "No momento não".

Conselheira: "Nós lhe perguntamos se deseja ter filhos porque queremos garantir-lhe que esta intervenção não a impedirá de os ter no futuro. Não sei se você já ouviu dizer que uma mulher pode ficar estéril em conseqüência de aborto. Bem, se você procurar uma parteira qualquer, ou uma clínica incompetente, pode contrair uma infecção, mas isso não acontece conosco".

Tudo isto não passa de uma mentira escandalosa. A mulher pode ficar estéril depois de abortos nas "melhores" clínicas. As infecções também ocorrem depois de tais operações. A esterilidade e as infecções não são próprias das parteiras e das clínicas de segunda classe. Se a conselheira tivesse falado em termos de relatividade e percentagem teria sido correta e honesta.

A conselheira, sorrindo, continuou: "O que lhe vai acontecer é provavelmente você se tornar mais fértil. Por isso, tenha cuidado de agora em diante!"

Temos aqui outro mito totalmente falso. Esta conselheira era uma fonte de notícias disparatadas e falsas.

"Estão tão certos disto que todos os médicos que trabalham aqui... os médicos consultores, que vão examiná-la, são muito entendidos em todas as formas de anticoncepcionais e terão todo prazer em discutir este assunto com você, se esta for a sua vontade.

Mas não queremos em absoluto forçá-la a isto. Você tem liberdade de consultar o seu próprio médico ou a Saúde Pública. Mas, é provável que fique mais fértil e não queremos revê-Ia aqui novamente.

Não que não queiramos ter o prazer de vê-Ia. Não pense que não pode voltar aqui, mas gostaríamos que não voltasse aqui grávida, se possível".

Sue: "Por que é prejudicial fazer mais de um aborto?"

Conselheira: "Não é prejudicial. Mas é sempre arriscado de certo modo, querida. Qualquer operação é arriscada. Um risco pequeno, é certo. Mas se se comete um engano... A operação é feita com anestesia geral e não queremos que as mulheres a usem como forma anticoncepcional. Não é uma coisa boa. Temos casos de mulheres que fazem aborto pela segunda vez, é verdade. Você sabe que sempre se pode fazer, mas preferiríamos que, se possível, se fizesse outra coisa.

Agora, querida, uma pergunta que envolve toda sua vida sexual. Não queremos bancar moralista. Queremos apenas saber por que você ficou nesta situação. Não queremos intrometer-nos em sua vida. Queremos apenas saber até que ponto você é fértil. Já teve relações sem anticoncepcional e não ficou grávida? Há mulheres que o fazem durante meses ou até durante anos".

Sue: "Sim, às vezes".

Conselheira: "E nestas ocasiões não usou nada, não é mesmo?"

Sue: "Não usei".

Conselheira: "Está bem. Você tem o seu número da Saúde Pública?"

Sue: "Desculpe, esqueci de trazê-lo".

Conselheira: "Bem, não Importa. Quando vier para fazer a operação traga-o, mas mesmo que o esquecer não fique preocupada. Não tem realmente muita importância".

Sue: "Para que a Sra. o quer?"

Conselheira: "É que se por acaso, o que Deus nos livre, uma mulher morresse, teríamos o seu número. Mas, bata na madeira (ela bateu duas vezes), temos cinco clínicas de aborto e não perdemos ainda ninguém. A única razão verdadeira é esta. Mas, como disse, tudo tem corrido muito bem neste campo, de tal modo que não tem a mínima importância. E você está mesmo certa de que seu marido concorda com tudo?"

Sue: "Concorda".

Conselheira: "Agora devemos escrever as razões pelas quais você quer fazer o aborto. Embora todos estes formulários sejam confidenciais, só esta parte pode ser destacada e enviada ao Ministério, mas sem nome e endereço. Declara somente: `Esta paciente sente-se incapaz de continuar a gravidez, porque... E devemos justificar os médicos, a Sra. entende".

Sue: "Hum . . . O quê?"

Conselheira: "Quero dizer, por que você quer interromper a gravidez Por que você não quer continuá-la?"

Sue: "Bem, eu simplesmente não quero continuar, a Sra. entende..."

Conselheira: "A Sra. não quer filhos e acabou-se, não é?"

Sue: "Não. Não é tanto assim. É que meu marido está dando início a uma empresa, no momento e eu o estou ajudando, por isso não acho conveniente ter filhos agora. Planejamos ter filhos dentro de quatro ou cinco anos".

Conselheira: "Realmente. São razões financeiras. Posso dizer que o dinheiro é realmente uma dificuldade nestes dias".

Sue: "Como é!"

Conselheira: "O seu marido tem a sua idade?"

Sue: "Um pouco mais. Tem trinta e quatro anos".

Conselheira: "Vocês deram início a esta empresa há pouco e, financeiramente, estão em grande dificuldade?"

Sue: "Bem. Não estamos propriamente em grandes dificuldades financeiras, mas gostaríamos de proporcionar o melhor a nossos filhos quando os tivermos, não está certo?"

Conselheira: "Então, posso então dizer que atualmente vocês estão montando uma empresa e... esperam ter filhos mais tarde. Está certo?"

Sue: "Sim, é isso mesmo".

Conselheira: "Está bem. De acordo. Gostamos de agir com a maior honestidade possível. Mas temos muitos médicos compreensivos que trabalham aqui conosco. Embora o nosso trabalho seja perfeitamente legal, o Ministério da Saúde pode fiscalizar-nos a cada momento. O nosso alvará pode ser cassado à menor irregularidade. E devemos também defender os médicos.

A Sra. será operada com anestesia geral e deverá estar aqui por volta das sete e meia da manhã. É apenas uma rápida injeção na veia da mão. É só isto. Você vai adormecer, e quando acordar estará tudo acabado e vai para a enfermaria. Seu marido pode vir visitá-la às sete horas da noite, se quiser. E na manhã seguinte, querida, você pode sair às sete e quinze. Não quer dizer que a mandemos embora. Você pode sentar-se no hall de entrada e esperar pelo seu marido, se ele vier buscá-la".

Sue: "Pode ser feito logo?"

Conselheira: "Bem, a Sra. deve falar com a administradora. Ela está bem informada a respeito da situação dos leitos. Assim que os médicos terminarem os exames, desça e ela lhe reservará um leito. Vá à sua sala, que ela lhe explicará tudo a respeito do pagamento. Mas veja: trabalhamos sete dias por semana. Portanto, se um dia da serrana lhe for mais conveniente do que outro, não tenha receio de dizer.

Mas a sua gravidez é apenas de dez semanas. Tive três esta tarde que estão chegando na décima sexta semana, e estas não têm tempo a perder".

Sue: "Podemos fazer tudo dentro de uma semana, ou, quando muito, duas?"

Conselheira: "Não posso dizer com certeza. Poderá mesmo ser amanhã. Mas não sei qual seja a situação dos leitos. Há uma flutuação incrível. As vezes há dias em que chegam seis ou oito francesas de uma vez só, e naturalmente as coisas mudam muito...

Agora querida, espere sua vez de ser examinada pelos médicos. Talvez haja fila. Pode haver uma hora ou mais de espera".

Tínhamos descoberto tudo o que queríamos saber sobre o funcionamento da clínica Wiston, suas atitudes e o modo como as mulheres eram tratadas lá.


[ Volta ] [ Índice ] [ Continua ]